domingo, 14 de setembro de 2014

Resumo de Sessão #4 - Eco

    Salve! Este é o quarto resumo das sessões de campanha mais antigas, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

   Na cena anterior desta sessão, vimos a difícil situação na qual os companheiros se viram ao aceitar a missão. Após uma luta tremendamente desesperadora nos esgotos da cidade, o grupo retorna à hospedaria, cedendo ao cansaço.

Capítulo 4: Eco

   Cena 1: Abrindo a Caixa

   Ainda feridos, mas distante da morte, os companheiros reúnem o saque da noite anterior e - após certo debate - decidem levar a um avaliador, antes de entregar ao homem que os contratara. Não haviam corrido risco tão grande de vida para serem enganados e mal pagos.

   O avaliador lhes informa que a espada, uma espécie de rapier, na verdade é um item mágico. Uma personalidade agressiva se debate dentro do objeto. Pede que tenham cautela, pois se a lâmina se alimentar de sangue, é possível que tal personalidade se torne ainda mais forte.
   Aproveitando-se da situação, Laurana aproveita para analisar a caixa. Com o auxílio do especialista, o grupo chega a uma solução para o enigma. Sangue mortal seria o sacrifício necessário para abrir. Sem pensar duas vezes, Ugo toma a caixa de Laurana, que tenta em vão enfrentar a força do bárbaro. 

    Assim, Ugo corta o próprio pulso, derramando o sangue sobre a caixa, que bebe avidamente o líquido. O meio orc começava a se tornar pálido, quando a caixa se abriu. No topo, uma carta representava uma bela mulher com asas, sob ela, seu nome: Alada.
   Tão logo tiraram a primeira carta do monte, o chão tremeu. Enquanto tentavam em vão manter o equilíbrio, o terremoto sacudiu as paredes, derrubando itens das prateleiras, quebrando os vidros da janela. Do lado de fora, viram casas inteiras ruírem na medida que o terremoto se propagava. Dois minutos mais longos que um dia inteiro foram aqueles.

   O tremor teve fim, mas o desespero não. Gritos vinham de fora da loja, homens e mulheres corriam rua acima e abaixo, enquanto os companheiros se entreolhavam assustados com o que supostamente haviam feito.
  Não desejando ser conectado àquilo de nenhuma maneira, o avaliador os expulsou aos berros. Dali, o grupo voltou à hospedaria, temendo que outras cartas se manifestassem.

  Cena 2: Comedores de Aço

   Após descobrir que a espada pela qual quase morreram era mágica, os companheiros decidiram se apropriar dela. Assim, não haveria recompensa e por este motivo ainda precisavam de provisões, por isso decidiram separar-se e buscar outras missões, reunindo os recursos que não haviam obtido.
   Após algumas curtas negociações, o grupo se dividiu: Ugo, Gadeus e Brianna iriam ao Distrito do Ferro, onde muitos armeiros estavam tendo um problema com certas criaturas insectóides; no lado sul da cidade, Laurana e Kaly procurariam a infestação daquilo que o contratante chamou de "gnomos fantasmas", que tornaram impossível para os habitantes visitarem seus parentes enterrados no Cemitério Verdevale.

   Já no Distrito do Ferro, os três seguiram o rastro de destruição deixado pelas criaturas, atravessando o limiar semidestruído de uma grande construção. Escondido pelas sombras, no meio do entulho, um par de insetos moviam suas antenas e patas asquerosas, torcendo, despedaçando e devorando um pedaço enferrujado de metal fino.
   O som dos passos desengonçados de Ugo, que tintilava em sua cota de malhas, logo atraíram a atenção das criaturas. Subitamente atentas à aproximação dos mercenários, os insetos - que assomavam com o tamanho de cães de caça - deslocaram-se velozmente com suas patas finas. Uma das criaturas desapareceu através de um buraco na parede, sumindo nas sombras; mas a outra avançou contra o grupo, soltando um guincho frenético e sibilante.

   Ugo saltou sobre ela de machado em punho, mas a criatura o flanqueou, esquivando do golpe e derrubando-o. Sobre ele, o monstro estalava suas pinças, mas Ugo o segurava com firmeza, ainda assim, as antenas do inseto arranhavam sua armadura, escorrendo sobre ele um líquido malcheiroso e amarronzado. Tão logo Ugo arremessou a criatura para longe e se ergueu, sentiu a gosma enferrujar e derreter sua cota de malha que se despedaçou e caiu no chão..

   Furioso, o meio-orc arrancou o que restava da armadura e gritou com os companheiros, exigindo ajuda. Seguindo a call do bárbaro, Brianna bloqueou o próximo avanço do monstro com seu escudo de madeira, arremessando-o de lado no chão, num golpe certeiro, Ugo arrancou a pequena cabeça da criatura, que se debateu um segundo antes de morrer. No entanto, ao que parecia, até mesmo o sangue daqueles monstros era o terror para o ferro: a lâmina do machado de Ugo escureceu e se despedaçou, como uma folha que apodrece.
 
   Enraivecido, Ugo largou o cabo do machado, arremetendo sozinho através do buraco, sacando o florete que haviam recuperado dos esgotos. A última coisa que Brianna e Gadeus viram foi um brilho violeta através do rombo na pedra, enquanto os guinchos assobiaram e o bárbaro começou a rugir.

   Cena 3: O Ataque dos Mordedores

   Chegando no cemitério, Laurana e Kaly observaram que a guarda da cidade havia criado um perímetro de cercas de madeira, patrulhada por soldados. Apresentando a identificação dada ao serem contratados, puderam passar o perímetro, adentrando na área cheia de tumbas e lápides. O silêncio era lúgubre, cortado apenas por passos velozes e leves, dos quais eles não podiam ver a fonte.
 
     Fizeram seu caminho em meio às lápides, seguindo os rastros de pegadas que pareciam mais recentes, de orelhas em pé para os passos que pareciam vir da próxima esquina e da próxima e da próxima, mas nada encontravam. Num salto, Laurana agarrou o topo de uma tumba, alçando a si mesma para o teto e de lá, viu o que antes lhes escapava.
 
    Repentinamente avistados, todos eles pararam. Como se de pedra fossem, ficaram paralisados, apenas olhando para a elfa e piscando rapidamente seus grandes olhos escuros. Duas dúzias de criaturas os cercavam. Alguns agachados, alguns agarrados à paredes com unhas afiadas, outros equilibrados sobre lápides. Eram como crianças, mas não tinham pelos no corpo, nem cabelo, nem vestiam roupas. Sua pele era cinza, pálida. Parecia quase prateada quando a luz caía diretamente sobre seus corpos esguios. Sorriam com dentes afiados e irregulares.
    Então, gritaram. Desvairadamente como apenas crianças sabem gritar. Um choro agudo, um berro do fundo dos pulmões. E correram. Correram sobre os quatro membros, num movimento longe de ser natural, como se estivessem imitando aranhas. Seus braços e pernas finas praticamente se cruzavam na velocidade. Pelo chão e pelas paredes, avançaram gritando, subindo a tumba na direção de Laurana e cercando Kaly por todos os lados.

   A elfa tirou as facas, atacando à esquerda e à direita, girando no próprio eixo, mas eram muitos. Cravou a faca no peito de uma criatura, sentindo a pontada moral de estar matando uma criança, ainda que monstruosa; mas o sentimento de culpa durou pouco, um deles escalou suas costas, cravando unhas afiadas na sua pele e começou a puxar seus cabelos. Aos berros, Laurana tentou sacudi-lo para longe, soltando uma das facas no processo. Outro agarrou seu braço, puxando-a para baixo e Laurana ajoelhou.
   Então um deles a mordeu. A dor aguda e lancinante de vários dentes agudos penetrando sua pele e mais que isso: uma súbita fraqueza que tremeu suas pernas. A criatura estava sugando sua energia junto do seu sangue.

   Ouvindo o grito da amiga, Kaly recuou, mas havia muitos deles. Juntou as mãos e a magia condensou um plasma frio entre suas palmas. Abriu os braços e o globo disparou raios gelados para todas as direções, muitos dos mordedores congelaram no ar, ou agarrados nas pedras. Um segundo bastou e Kaly apertou as mãos em punhos e sussurrou a ordem:
    - Caixão ártico! - esmagando-os com o gelo que os cobria.
    O sangue escorreu entre as brechas da carne congelada, e uma dúzia deles caiu ao chão.

   Saltando para trás, Laurana caiu sobre a criatura que estava agarrada em suas costas, completando a cambalhota para trás do mordedor. Antes que ele se recuperasse, rasgou seu pescoço de orelha a orelha com a faca que lhe restava. Ainda com o sangue pingando da lâmina e escorrendo por seu braço, Laurana se pôs de pé e arremessou a adaga diretamente pelo olho do mordedor que a derrubara.
    Um salto pro lado, rolou sobre si mesma, recuperou as facas e se jogou da tumba para o chão, empalando mais um monstrinho. Mas havia mais. Muitos mais.

    O grito daqueles que os atacaram chamou outros e, como formigas, atenderam. Vinham de todos os lados, subindo e descendo as lápides, naquele jeito escroto e esquisito de se deslocar sobre os quatro membros.
     Laurana arregalou os olhos pensando:
     - A gente vai morrer...
    Olhou em volta e viu que a tumba na qual subira - um grande mausoléu - possuía uma pequena porta retangular. Ainda com os punhais nas mãos, sem saber o que a esperava do outro lado, Laurana arremeteu contra o portal, dando-lhe o chute mais poderoso que podia. E a porta nem se moveu.
    Kaly se juntara a ela e a multidão de mordedores se aproximava cada vez mais. Tentando dar mais tempo para a gatuna, o meio-anjo condensou novamente seu Poder, disparando tantos raios quanto podia, impedindo o avanço de uma parte das criaturas.

 
    Cena 4: O Bruxo de Dez Mil Anos

   Abriu os olhos, apenas para fitar a mais profunda escuridão. Um estrondo havia abalado o seu sono, mas o silêncio retornara quase que de imediato. Memórias confusas se embaralhavam em sua mente, talvez um sonho, talvez uma lembrança... Como saber?
  Um medo que passou tão veloz quanto um pesadelo do qual se acorda. Um vazio desconfortável.

  Estava deitado num chão frio, áspero e duro. Não lembrava como havia chegado ali. Tateou a escuridão. Seus dedos se fecharam em torno de um bastão. Finalmente algo familiar. Apoiou-se no cajado e se ergueu, mas nada podia ver. Bum. O estrondo se repetiu e Rafiki ergueu os olhos, na direção do som. O preto e o branco eram a mesma coisa no escuro, nada havia para ver, então fechou os olhos e sentiu.
   Aquele sexto sentido que apenas os arcanistas e alguns poucos abençoados possuíam era como um terceiro olho. Sentiu o desespero e a pressa das duas criaturas, uma delas que batia freneticamente contra seu abrigo escuro. A fome e a confusão na mente daquelas inúmeras criaturas que se deslocavam na sua direção. Abriu os olhos.
 
   Laurana saltou e, com o impulso dos braços, chutou a porta novamente e a pedra cedeu, abrindo para trás num movimento lateral. Esgueiraram-e pela brecha, forçando a pedra de volta ao lugar bem a tempo de ouvir uma voz rouca e grave ecoar de trás de si.
   - Eu preciso de luz aqui dentro. - disse Rafiki.
   Ofegante, a elfa se virou, para enxergar uma grande escada descer na penumbra. Na parte mais baixa do que parecia um anfiteatro, um velho barbudo se apoiava num bastão comprido cujo topo emanava uma forte luz. Vestia um manto monocromático, surrado e amassado.
 
   As paredes daquele lugar estavam repletas de figuras apagadas pelo tempo. Escrituras já impossíveis de se ler. Rachaduras se esticavam e imensas teias de aranha caíam penduradas como cortinas de cada canto e viga.

     Após se entreolharem e cochicharem rapidamente, os dois aventureiros decidiram que valeria mais a pena tentar a sorte com um velho sozinho numa tumba do que três dezenas de gnomos comedores de pessoas.

    Com a pedra de volta ao lugar, as criaturas se apertavam contra a pequena fresta que restara, mas eram incapazes de movê-la. Seus guinchos e sibilos se misturavam ao som frenético que faziam ao arranhar a porta com suas unhas.
 
    Começaram a descer a escada, sentindo o peso que o teto escuro fazia naquela câmara. Cada passo fazia o eco de uma caminhada inteira e o ar era pesado, frio e com o cheiro de terra fresca. Rafiki observou os dois estranhos com olhos curiosos e também passou a caminhar na direção deles.  
    
   - Quem é você?- inquiriu a elfa, antes mesmo de alcançar o velho.

   - Hmm... Eu sou Rafiki. - disse ele, mexendo na barba. - E vocês? Quem são vocês?

   - Eu sou Kaly e essa é Laurana. - respondeu o meio-anjo. - O que você está fazendo aqui?

   - O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou o velho em resposta.

   - Ele perguntou primeiro. - disparou Laurana, apontando o dedo estendido em riste para o estranho.

   - Tem uns bichos lá fora. - respondeu Kaly, apesar da resposta da elfa. - Nós estávamos fugindo deles porque são muitos. E você, também fugiu deles pra cá?

   - Não. Eu acordei aqui. - disse ele. - Mas eu estou sentindo os bichos.

   - Sentindo?
  
   - É. Sentindo.

   Cena 5: A Espada do Traidor

    Brianna e Gadeus seguiram o amigo através do buraco, correndo na penumbra por corredores cheios de entulho. A luminosidade violeta e os berros ensandecidos do bárbaro, no entanto, estavam sempre na próxima sala, depois da próxima esquina.
     Saltaram sobre rochas, pedaços de parede e passaram por portas. Eventualmente encontrando uma carcaça partida de inseto. Subiram uma escada para então encontrar Ugo respirando pesadamente no meio de uma dúzia de corpos despedaçados de monstros.

    Na mão do bárbaro, o florete brilhava tenuemente, envolto por uma luz violeta. A lâmina parecia vibrar, tremendo o ar em volta. Sob a roupa do meio-orc, espalhando-se pelo seu braço direito, runas e intrincados desenhos luziam no mesmo tom da espada, forte o suficiente para serem vistos sob o pano.
    Com um equilíbrio e uma postura estranhos a ele, Ugo se virou, encarando os amigos com um olhar vazio. Seus olhos pareciam estar bloqueados por uma nuvem e estavam também arroxeados.

   Com um rugido grave, Ugo investiu contra os amigos. Brianna ergueu o escudo, apenas para receber um chute em cheio na madeira e cair deitada. O bárbaro brandiu a espada contra o elfo, mas Gadeus evitou o golpe com facilidade e socou a mão do amigo, desarmando-o. Surpreendido, o meio-orc tentou lhe acertar um soco, mas Gadeus novamente evadiu por sob o braço dele, golpeando-o com força entre as costelas e na lateral da perna. Ugo caiu de joelhos e o elfo o desacordou, socando-o na têmpora.

    O monge buscou a espada, mas o brilho refletiu, subindo por seu braço. Arremessou a lâmina de volta ao chão, sentindo sua cabeça pesar. Gadeus não entendera bem o que havia acontecido, mas percebeu que não era uma boa ideia empunhar o florete.
      - Talvez devêssemos ter entregue isso de vez ao dono. - pensou ele.
     Com a capa, o elfo enrolou a espada, que reduziu seu brilho até apagar, e a guardou atada às costas com uma corda. Em seu braço, brilhava tenuemente o mesmo desenho complexo que o florete fizera em Ugo.

     Considerando que o bárbaro havia massacrado todas as criaturas, visto que nenhuma mais havia por perto, Brianna e Gadeus deram por completa a missão. A draconato jogou o meio-orc sobre um ombro e caminharam todo o caminho de volta.
   Estavam a descer o Distrito do Ferro quando Ugo acordou. Não se recordava de nada após a investida inicial e achava estranho as dores que sentia nas costelas e no rosto.
     - Você perdeu o controle e foi pra cima dos bichos... Eles devem ter te dado uns golpes, mas parece que não restou nenhum pra cantar vitória. - disse Gadeus.
     Feliz consigo mesmo, o meio-orc quase esqueceu do fato de ter perdido o machado e a cota de malha. Na entrada do Distrito, receberam a recompensa pelo trabalho, após relatar parte do que acontecera.

     Assim, os três decidiram ir até o cemitério, encontrar, senão ajudar, os outros dois membros do grupo. Gadeus e Ugo começavam a ouvir o sussurro discreto dos pensamentos daqueles que estavam em volta, compreendendo rapidamente o que acontecia.

    Cena 6: Quietus

    - Igual eu estou sentindo que você tem um brilhinho aí na sua bolsa. - continuou o velho.

    Laurana levou instintivamente a mão à bolsa, que logo começou a emitir um brilho intenso. Rafiki sentiu o Poder ampliar e ampliar, como uma bolha. E fez-se silêncio.
    Todo o som desapareceu como quando se afunda completamente na água parada de um lago. A sensação de surdez repentina deixou a todos desconfortáveis e engoliram em seco, tentando consertar a audição, mas não conseguiram ouvir nem mesmo o som de suas gargantas. Piscaram, aturdidos, e mexeram nos próprios ouvidos, mas o som realmente desaparecera.
 
    Brianna, Gadeus e Ugo chegavam ao Cemitério Verdevale quando tudo ficou em silêncio. Viram guardas e pessoas se desesperarem. Já não bastava o terremoto... O que mais havia de acontecer por ali?
    Ambos, elfo e meio-orc, através daquele poder estranho que a espada os havia imbuído, puderam ouvir os pensamentos confusos e desesperados daqueles homens e mulheres.
    Na confusão, ultrapassaram o perímetro criado pela guarda e seguiram o sussurro distante dos pensamentos de seus dois amigos.

    Com gestos, Laurana, Kaly e Rafiki se dispuseram a sair da tumba, mas bastou chegar à porta para hesitarem. Do outro lado ainda podiam ver os mordedores se debatendo contra a fresta.

    Caminhavam entre as lápides quando Gadeus e Ugo ouviram um choro. Estranho e confuso como todos os pensamentos que ouviam, vinha de algum lugar próximo e, com gestos e tal telepatia, decidiram investigar.
    Recostada numa lápide havia uma garotinha de cabelos castanhos, presos em dois montinhos dos lados da cabeça. Estava num vestido rosado cheio de babados e laços, roupas muito estranhas mesmo para uma menina da nobreza.
    - Cadê meu pai? Eriol, Eriol... - chamava ela, em pensamento, em meio a uma profusão de imagens absurdas e abstratas de lugares cheios de luz, pessoas com asas, fogo e cristais de gelo. - Eriol, cadê você?
     Ao se aproximarem, receberam o olhar profundo e azul da garota, que - naquele silêncio sobrenatural - falou com uma voz infantil tão profunda quanto o som de uma harpa.
      - Fiquem longe! Quem são vocês?! CADÊ MEU PAI?!
      Pararam por um momento, antes de se aproximar lentamente, tentando pacificar a estranha menina.

    Laurana, Kaly e Rafiki ouviram a voz infantil projetar-se naquela quietude. Assim também, os mordedores ouviram. Todos pararam daquela maneira estranha que fizeram ao encarar Laurana, então viraram-se e, sem nenhum som, partiram em disparada na direção da voz.
     Temendo pela segurança da portadora da voz, os três forçaram a abertura da porta e seguiram as criaturas às pressas.

     Com algum esforço, Brianna conseguiu acalmar a garota, mesmo sem o uso da voz e - desabando em lágrimas - a menina abrigou entre os braços da imensa guerreira dragão. Tão logo a aventureira abraçou a menina, o som voltou ao mundo como uma imensa onda que esvazia o mar antes de se arrebentar contra a costa.

     - Qual é seu nome? - perguntou Brianna.

     - Eu quero meu pai! - resmungou a menina.

     - Calma, eu vou levar você pro seu pai. - disse a draconato, acariciando os cabelos finos da garota. - Mas preciso saber seu nome e o nome do seu pai.

    - Eu sou Eco. - disse a garota, fungando. - Meu pai é o maior mago do mundo. Eriol.

    - Hummm... Tudo bem. Vou levar você até ele.

    Eco assentiu e começou a brilhar. Como se estivesse se tornando uma estrela, ela brilhou até que não fosse possível encará-la. E quando a luz desapareceu, não havia mais uma garota, mas uma carta comprida no lugar com um desenho rebuscado e fantástico da garota, subscrito por seu nome numa caligrafia floreada.

     - As cartas estão se libertando. - concluiu Ugo.

    Gadeus assentiu. Então ouviram a corrida desenfreada dos seus amigos e o som ligeiro de muitos pés.
    Quase não tiveram tempo de sacar as armas. Os mordedores vieram de todos os lados.

   Cena 7: Massacre de Gnomos

    Brianna, chocou o escudo contra o primeiro que se atirou contra ela, jogando-o contra uma lápide, que se partiu, e partiu em dois pedaços o segundo num único golpe de machado.
    Ugo, segurando seu machado restante com ambas as mãos, fendeu o crânio de um mordedor com um golpe, enquanto Gadeus assumia sua postura de combate. Cercado, o monge esperou que investissem contra ele antes de desferir sua habilidade: com a velocidade que apenas um monge teria, moveu os punhos para cima e para baixo, para um lado e para o outro, girando no próprio eixo. Cinco mordedores caíram imóveis ao seu redor.

    Laurana arremessou uma faca antes mesmo de se juntar aos amigos, acertando uma criatura no ar e derrubando-a no meio do salto. Saltando na direção de uma tumba, um passo e outro na parede, a elfa chegou ao topo, recuperando a faca e degolando outro monstro com um golpe duplo no pescoço.

    Kaly moveu as mãos em círculo, juntando novamente aquela energia fria, que desferiu na direção daqueles que restavam em volta de seus amigos. Um a um, as criaturas paralisaram, envoltas em uma camada de gelo.

     O velho, Rafiki, se juntou àqueles que para ele eram estranhos, ajudando-os no combate tão desvantajoso. Saltou no meio dos mordedores que ainda não haviam se juntado ao combate, golpeando o cajado no chão e pronunciando palavras antigas. O topo brilhante de seu cajado trovejou e de repente havia um manto de relâmpagos dançando em volta do velho, sibilando e lambendo o chão.
     Os mordedores que convergiram ao seu redor foram alvejados por raios elétricos e se debateram, terminando carbonizados. Com um giro do bastão, Rafiki golpeou outra criatura que se inclinava numa lápide para atacá-lo, e o relâmpago se enroscou no cajado explodindo o mordedor e levando-o ao chão.

   Golpeando, girando e golpeando. Com o machado firme nas mãos, Ugo derrubou mais três daqueles estranhos gnomos, enquanto Brianna abria caminho entre os restantes com seu escudo e os elfos nos seus calcanhares. Por fim, o último gnomo pereceu e puderam respirar.
   
     Estavam exaustos e haviam sido feridos algumas vezes pelos dentes afiados dos mordedores, por isso, decidiram voltar à hospedaria antes que anoitecesse, para comer, beber e discutir. Embora não conhecessem o velho, sua demonstração de altruísmo e impressionantes poderes foram o suficiente para que o convidassem a beber consigo - o que Rafiki prontamente aceitou, pois não sabia onde estava ou quanto tempo passara dormindo, e aquele grupo improvável podia dar-lhe respostas.
 
     Assim, saíram do cemitério, resgataram a recompensa por aquele massacre e - com moedas a tintilar nos bolsos - procuraram pelo bar mais próximo.

Considerações: Esse foi um post absurdamente longo, mas eu queria avançar um bocado com a história. Agora, Rafiki entra no grupo e a primeira carta se liberta. Tentei bastante para poder colocar a digníssima frase "preciso de luz aqui dentro", mas estou cansado de escrever e vou parar sem muitas considerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário