domingo, 24 de maio de 2015

Narrativa #2: Nas Vielas de Pedrabranca

    Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
    Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.

Narrativa #2 - Nas Vielas de Pedrabranca

   O grande continente de Solamne, a oeste do Mar do Mercador, é o berço próspero da civilização de Tellerian, lar de homens, anões, halflings e outras tantas raças inteligentes que formam a complexa rede de povos que habita as três nações ali estabelecidas.

   A bissetriz do Rio do Sol divide, politicamente, Solamne norte e sul. Ao norte deste marco e a oeste dos pântanos de Seisrios, fica o reino de Roeheim – "terra ocidental" na língua dos anões – governado pela dinastia de Durin na cidade de Asper, que fica na encosta sul das montanhas Roegard.
   A nordeste de Seisrios fica o reino de Gunheim – "terra nortenha' na língua anã – que já teve outro nome, mas este se perdeu quando da aproximação com os anões das montanhas Gungard. O reino de Gunheim é governado há centenas de anos pela Casa Moris de Palas.

   Ao sul do Rio do Sol fica a República de Savant, com capital em Pedrabranca. Os habitantes da República se orgulham de sua nação por seu governo sábio, formado por cinco representantes, um de cada raça fundadora, sejam elas: homens, elfos, anões, drows e halflings.

   Pedrabranca é, senão a maior, um das maiores cidades do continente. Seu povo miscigenado vive em harmonia sob as sombras das imensas estátuas dos fundadores, que olham por sua magnífica cidade do topo da Colina.
   No entanto, os tempos de paz acabaram. A investida orc, sob os comandos de Hogg, abalou a segurança da República e um de seus ataques incendiou parte da cidade, ruindo duas das grandes estátuas.
   Estranhamente, o Filho da Serpente não voltou a atacar Pedrabranca e correm boatos de que o fizera apenas para mantê-la intacta, tomá-la por dentro e fazer da capital a sede do seu reinado cruel.

   Os embates de ideias e sangue entre a Ethos e a Resistência também vêm dividindo ideais na cidade branca. A violência, ainda que velada, tem atingido patamares jamais vistos na história da República. Fato é que está cada vez menos seguro atrás das muralhas alvas de Pedrabranca, ainda que fora delas esteja ainda pior.

   Sabendo disso, Ceres não conseguia caminhar do trabalho para casa sem que um frio tocasse sua espinha sempre que passasse por um beco ou viela mal iluminada.
   Ela era cozinheira assistente e por vezes garçonete de uma nem tão grande, mas muito frequentada taverna no centro da cidade, a taverna Donzela Feliz – apelidada carinhosamente de Puta Feliz pelos clientes mais assíduos.

   “De donzela essa taverna não tem nada.”, vivia repetindo Burgo, um mercador de vinhos que fornecia e consumia muitas das bebidas da Donzela.

   A moça, já na casa dos vintes e tantos anos, era responsável pela criação de seus irmãos mais novos, os gêmeos Heitor e Félix, enquanto o pai – soldado consagrado da Ethos Alfa estava longe, em campanha.
   O dinheiro enviado pelo pai nem sempre era o suficiente para a manutenção das despesas e por isso, todos os dias, Ceres saia da Baixada e caminhava quatro tortuosos quilômetros até o Centro, onde trabalhava por doze horas antes de fazer o caminho inverso.

   Percorria este caminho inverso naquela noite, descendo as ladeiras que levavam do Centro à Baixada, quando seus temores tomaram forma nas silhuetas de quatro homens saindo de uma rua transversal estreita e escura.

   Ela, sem disfarçar, deu meia volta, apressando os passos rumo à rua de cima, na qual se via o movimento – ainda que reduzido - de pessoas e carroças.
   O passo veloz se transformara numa corrida e ela já ultrapassava metade do percurso quando ouviu o som do ar sendo cortado e o chicote mordeu o seu tornozelo como uma tira de fogo.

   A dor aguda e súbita reinou sozinha por um segundo, então Ceres se chocou contra o chão calçado de pedras brancas e o mundo girou como um redemoinho cruel.
   Tonta e desesperada, a garota tentou se arrastar, mas parecia que cada osso de seu corpo estava gritando. Os músculos se moviam a contrassenso, a pele ardia onde a derme abrira e lágrimas já corriam por sua face.

   - Onde esssstá tentando ir, moça? - A voz desdenhosa tinha um tom estranho, como se o homem estivesse sibilando.

   Aos prantos, Ceres tentou se erguer e sentiu mãos rudes agarrarem-na pelos braços e cabelo. Debateu-se violentamente, mas não teve sucesso em se libertar.

   - Por favor, não... – Choramingou ela, olhando para aqueles horrendos olhos amarelados.

   - Não sssse preocupe. – Disse ele. - Tudo ficará bem. Bem demaisssss.

   Então o pesadelo começou.

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