domingo, 14 de setembro de 2014

Resumo de Sessão #4 - Eco

    Salve! Este é o quarto resumo das sessões de campanha mais antigas, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

   Na cena anterior desta sessão, vimos a difícil situação na qual os companheiros se viram ao aceitar a missão. Após uma luta tremendamente desesperadora nos esgotos da cidade, o grupo retorna à hospedaria, cedendo ao cansaço.

Capítulo 4: Eco

   Cena 1: Abrindo a Caixa

   Ainda feridos, mas distante da morte, os companheiros reúnem o saque da noite anterior e - após certo debate - decidem levar a um avaliador, antes de entregar ao homem que os contratara. Não haviam corrido risco tão grande de vida para serem enganados e mal pagos.

   O avaliador lhes informa que a espada, uma espécie de rapier, na verdade é um item mágico. Uma personalidade agressiva se debate dentro do objeto. Pede que tenham cautela, pois se a lâmina se alimentar de sangue, é possível que tal personalidade se torne ainda mais forte.
   Aproveitando-se da situação, Laurana aproveita para analisar a caixa. Com o auxílio do especialista, o grupo chega a uma solução para o enigma. Sangue mortal seria o sacrifício necessário para abrir. Sem pensar duas vezes, Ugo toma a caixa de Laurana, que tenta em vão enfrentar a força do bárbaro. 

    Assim, Ugo corta o próprio pulso, derramando o sangue sobre a caixa, que bebe avidamente o líquido. O meio orc começava a se tornar pálido, quando a caixa se abriu. No topo, uma carta representava uma bela mulher com asas, sob ela, seu nome: Alada.
   Tão logo tiraram a primeira carta do monte, o chão tremeu. Enquanto tentavam em vão manter o equilíbrio, o terremoto sacudiu as paredes, derrubando itens das prateleiras, quebrando os vidros da janela. Do lado de fora, viram casas inteiras ruírem na medida que o terremoto se propagava. Dois minutos mais longos que um dia inteiro foram aqueles.

   O tremor teve fim, mas o desespero não. Gritos vinham de fora da loja, homens e mulheres corriam rua acima e abaixo, enquanto os companheiros se entreolhavam assustados com o que supostamente haviam feito.
  Não desejando ser conectado àquilo de nenhuma maneira, o avaliador os expulsou aos berros. Dali, o grupo voltou à hospedaria, temendo que outras cartas se manifestassem.

  Cena 2: Comedores de Aço

   Após descobrir que a espada pela qual quase morreram era mágica, os companheiros decidiram se apropriar dela. Assim, não haveria recompensa e por este motivo ainda precisavam de provisões, por isso decidiram separar-se e buscar outras missões, reunindo os recursos que não haviam obtido.
   Após algumas curtas negociações, o grupo se dividiu: Ugo, Gadeus e Brianna iriam ao Distrito do Ferro, onde muitos armeiros estavam tendo um problema com certas criaturas insectóides; no lado sul da cidade, Laurana e Kaly procurariam a infestação daquilo que o contratante chamou de "gnomos fantasmas", que tornaram impossível para os habitantes visitarem seus parentes enterrados no Cemitério Verdevale.

   Já no Distrito do Ferro, os três seguiram o rastro de destruição deixado pelas criaturas, atravessando o limiar semidestruído de uma grande construção. Escondido pelas sombras, no meio do entulho, um par de insetos moviam suas antenas e patas asquerosas, torcendo, despedaçando e devorando um pedaço enferrujado de metal fino.
   O som dos passos desengonçados de Ugo, que tintilava em sua cota de malhas, logo atraíram a atenção das criaturas. Subitamente atentas à aproximação dos mercenários, os insetos - que assomavam com o tamanho de cães de caça - deslocaram-se velozmente com suas patas finas. Uma das criaturas desapareceu através de um buraco na parede, sumindo nas sombras; mas a outra avançou contra o grupo, soltando um guincho frenético e sibilante.

   Ugo saltou sobre ela de machado em punho, mas a criatura o flanqueou, esquivando do golpe e derrubando-o. Sobre ele, o monstro estalava suas pinças, mas Ugo o segurava com firmeza, ainda assim, as antenas do inseto arranhavam sua armadura, escorrendo sobre ele um líquido malcheiroso e amarronzado. Tão logo Ugo arremessou a criatura para longe e se ergueu, sentiu a gosma enferrujar e derreter sua cota de malha que se despedaçou e caiu no chão..

   Furioso, o meio-orc arrancou o que restava da armadura e gritou com os companheiros, exigindo ajuda. Seguindo a call do bárbaro, Brianna bloqueou o próximo avanço do monstro com seu escudo de madeira, arremessando-o de lado no chão, num golpe certeiro, Ugo arrancou a pequena cabeça da criatura, que se debateu um segundo antes de morrer. No entanto, ao que parecia, até mesmo o sangue daqueles monstros era o terror para o ferro: a lâmina do machado de Ugo escureceu e se despedaçou, como uma folha que apodrece.
 
   Enraivecido, Ugo largou o cabo do machado, arremetendo sozinho através do buraco, sacando o florete que haviam recuperado dos esgotos. A última coisa que Brianna e Gadeus viram foi um brilho violeta através do rombo na pedra, enquanto os guinchos assobiaram e o bárbaro começou a rugir.

   Cena 3: O Ataque dos Mordedores

   Chegando no cemitério, Laurana e Kaly observaram que a guarda da cidade havia criado um perímetro de cercas de madeira, patrulhada por soldados. Apresentando a identificação dada ao serem contratados, puderam passar o perímetro, adentrando na área cheia de tumbas e lápides. O silêncio era lúgubre, cortado apenas por passos velozes e leves, dos quais eles não podiam ver a fonte.
 
     Fizeram seu caminho em meio às lápides, seguindo os rastros de pegadas que pareciam mais recentes, de orelhas em pé para os passos que pareciam vir da próxima esquina e da próxima e da próxima, mas nada encontravam. Num salto, Laurana agarrou o topo de uma tumba, alçando a si mesma para o teto e de lá, viu o que antes lhes escapava.
 
    Repentinamente avistados, todos eles pararam. Como se de pedra fossem, ficaram paralisados, apenas olhando para a elfa e piscando rapidamente seus grandes olhos escuros. Duas dúzias de criaturas os cercavam. Alguns agachados, alguns agarrados à paredes com unhas afiadas, outros equilibrados sobre lápides. Eram como crianças, mas não tinham pelos no corpo, nem cabelo, nem vestiam roupas. Sua pele era cinza, pálida. Parecia quase prateada quando a luz caía diretamente sobre seus corpos esguios. Sorriam com dentes afiados e irregulares.
    Então, gritaram. Desvairadamente como apenas crianças sabem gritar. Um choro agudo, um berro do fundo dos pulmões. E correram. Correram sobre os quatro membros, num movimento longe de ser natural, como se estivessem imitando aranhas. Seus braços e pernas finas praticamente se cruzavam na velocidade. Pelo chão e pelas paredes, avançaram gritando, subindo a tumba na direção de Laurana e cercando Kaly por todos os lados.

   A elfa tirou as facas, atacando à esquerda e à direita, girando no próprio eixo, mas eram muitos. Cravou a faca no peito de uma criatura, sentindo a pontada moral de estar matando uma criança, ainda que monstruosa; mas o sentimento de culpa durou pouco, um deles escalou suas costas, cravando unhas afiadas na sua pele e começou a puxar seus cabelos. Aos berros, Laurana tentou sacudi-lo para longe, soltando uma das facas no processo. Outro agarrou seu braço, puxando-a para baixo e Laurana ajoelhou.
   Então um deles a mordeu. A dor aguda e lancinante de vários dentes agudos penetrando sua pele e mais que isso: uma súbita fraqueza que tremeu suas pernas. A criatura estava sugando sua energia junto do seu sangue.

   Ouvindo o grito da amiga, Kaly recuou, mas havia muitos deles. Juntou as mãos e a magia condensou um plasma frio entre suas palmas. Abriu os braços e o globo disparou raios gelados para todas as direções, muitos dos mordedores congelaram no ar, ou agarrados nas pedras. Um segundo bastou e Kaly apertou as mãos em punhos e sussurrou a ordem:
    - Caixão ártico! - esmagando-os com o gelo que os cobria.
    O sangue escorreu entre as brechas da carne congelada, e uma dúzia deles caiu ao chão.

   Saltando para trás, Laurana caiu sobre a criatura que estava agarrada em suas costas, completando a cambalhota para trás do mordedor. Antes que ele se recuperasse, rasgou seu pescoço de orelha a orelha com a faca que lhe restava. Ainda com o sangue pingando da lâmina e escorrendo por seu braço, Laurana se pôs de pé e arremessou a adaga diretamente pelo olho do mordedor que a derrubara.
    Um salto pro lado, rolou sobre si mesma, recuperou as facas e se jogou da tumba para o chão, empalando mais um monstrinho. Mas havia mais. Muitos mais.

    O grito daqueles que os atacaram chamou outros e, como formigas, atenderam. Vinham de todos os lados, subindo e descendo as lápides, naquele jeito escroto e esquisito de se deslocar sobre os quatro membros.
     Laurana arregalou os olhos pensando:
     - A gente vai morrer...
    Olhou em volta e viu que a tumba na qual subira - um grande mausoléu - possuía uma pequena porta retangular. Ainda com os punhais nas mãos, sem saber o que a esperava do outro lado, Laurana arremeteu contra o portal, dando-lhe o chute mais poderoso que podia. E a porta nem se moveu.
    Kaly se juntara a ela e a multidão de mordedores se aproximava cada vez mais. Tentando dar mais tempo para a gatuna, o meio-anjo condensou novamente seu Poder, disparando tantos raios quanto podia, impedindo o avanço de uma parte das criaturas.

 
    Cena 4: O Bruxo de Dez Mil Anos

   Abriu os olhos, apenas para fitar a mais profunda escuridão. Um estrondo havia abalado o seu sono, mas o silêncio retornara quase que de imediato. Memórias confusas se embaralhavam em sua mente, talvez um sonho, talvez uma lembrança... Como saber?
  Um medo que passou tão veloz quanto um pesadelo do qual se acorda. Um vazio desconfortável.

  Estava deitado num chão frio, áspero e duro. Não lembrava como havia chegado ali. Tateou a escuridão. Seus dedos se fecharam em torno de um bastão. Finalmente algo familiar. Apoiou-se no cajado e se ergueu, mas nada podia ver. Bum. O estrondo se repetiu e Rafiki ergueu os olhos, na direção do som. O preto e o branco eram a mesma coisa no escuro, nada havia para ver, então fechou os olhos e sentiu.
   Aquele sexto sentido que apenas os arcanistas e alguns poucos abençoados possuíam era como um terceiro olho. Sentiu o desespero e a pressa das duas criaturas, uma delas que batia freneticamente contra seu abrigo escuro. A fome e a confusão na mente daquelas inúmeras criaturas que se deslocavam na sua direção. Abriu os olhos.
 
   Laurana saltou e, com o impulso dos braços, chutou a porta novamente e a pedra cedeu, abrindo para trás num movimento lateral. Esgueiraram-e pela brecha, forçando a pedra de volta ao lugar bem a tempo de ouvir uma voz rouca e grave ecoar de trás de si.
   - Eu preciso de luz aqui dentro. - disse Rafiki.
   Ofegante, a elfa se virou, para enxergar uma grande escada descer na penumbra. Na parte mais baixa do que parecia um anfiteatro, um velho barbudo se apoiava num bastão comprido cujo topo emanava uma forte luz. Vestia um manto monocromático, surrado e amassado.
 
   As paredes daquele lugar estavam repletas de figuras apagadas pelo tempo. Escrituras já impossíveis de se ler. Rachaduras se esticavam e imensas teias de aranha caíam penduradas como cortinas de cada canto e viga.

     Após se entreolharem e cochicharem rapidamente, os dois aventureiros decidiram que valeria mais a pena tentar a sorte com um velho sozinho numa tumba do que três dezenas de gnomos comedores de pessoas.

    Com a pedra de volta ao lugar, as criaturas se apertavam contra a pequena fresta que restara, mas eram incapazes de movê-la. Seus guinchos e sibilos se misturavam ao som frenético que faziam ao arranhar a porta com suas unhas.
 
    Começaram a descer a escada, sentindo o peso que o teto escuro fazia naquela câmara. Cada passo fazia o eco de uma caminhada inteira e o ar era pesado, frio e com o cheiro de terra fresca. Rafiki observou os dois estranhos com olhos curiosos e também passou a caminhar na direção deles.  
    
   - Quem é você?- inquiriu a elfa, antes mesmo de alcançar o velho.

   - Hmm... Eu sou Rafiki. - disse ele, mexendo na barba. - E vocês? Quem são vocês?

   - Eu sou Kaly e essa é Laurana. - respondeu o meio-anjo. - O que você está fazendo aqui?

   - O que vocês estão fazendo aqui? - perguntou o velho em resposta.

   - Ele perguntou primeiro. - disparou Laurana, apontando o dedo estendido em riste para o estranho.

   - Tem uns bichos lá fora. - respondeu Kaly, apesar da resposta da elfa. - Nós estávamos fugindo deles porque são muitos. E você, também fugiu deles pra cá?

   - Não. Eu acordei aqui. - disse ele. - Mas eu estou sentindo os bichos.

   - Sentindo?
  
   - É. Sentindo.

   Cena 5: A Espada do Traidor

    Brianna e Gadeus seguiram o amigo através do buraco, correndo na penumbra por corredores cheios de entulho. A luminosidade violeta e os berros ensandecidos do bárbaro, no entanto, estavam sempre na próxima sala, depois da próxima esquina.
     Saltaram sobre rochas, pedaços de parede e passaram por portas. Eventualmente encontrando uma carcaça partida de inseto. Subiram uma escada para então encontrar Ugo respirando pesadamente no meio de uma dúzia de corpos despedaçados de monstros.

    Na mão do bárbaro, o florete brilhava tenuemente, envolto por uma luz violeta. A lâmina parecia vibrar, tremendo o ar em volta. Sob a roupa do meio-orc, espalhando-se pelo seu braço direito, runas e intrincados desenhos luziam no mesmo tom da espada, forte o suficiente para serem vistos sob o pano.
    Com um equilíbrio e uma postura estranhos a ele, Ugo se virou, encarando os amigos com um olhar vazio. Seus olhos pareciam estar bloqueados por uma nuvem e estavam também arroxeados.

   Com um rugido grave, Ugo investiu contra os amigos. Brianna ergueu o escudo, apenas para receber um chute em cheio na madeira e cair deitada. O bárbaro brandiu a espada contra o elfo, mas Gadeus evitou o golpe com facilidade e socou a mão do amigo, desarmando-o. Surpreendido, o meio-orc tentou lhe acertar um soco, mas Gadeus novamente evadiu por sob o braço dele, golpeando-o com força entre as costelas e na lateral da perna. Ugo caiu de joelhos e o elfo o desacordou, socando-o na têmpora.

    O monge buscou a espada, mas o brilho refletiu, subindo por seu braço. Arremessou a lâmina de volta ao chão, sentindo sua cabeça pesar. Gadeus não entendera bem o que havia acontecido, mas percebeu que não era uma boa ideia empunhar o florete.
      - Talvez devêssemos ter entregue isso de vez ao dono. - pensou ele.
     Com a capa, o elfo enrolou a espada, que reduziu seu brilho até apagar, e a guardou atada às costas com uma corda. Em seu braço, brilhava tenuemente o mesmo desenho complexo que o florete fizera em Ugo.

     Considerando que o bárbaro havia massacrado todas as criaturas, visto que nenhuma mais havia por perto, Brianna e Gadeus deram por completa a missão. A draconato jogou o meio-orc sobre um ombro e caminharam todo o caminho de volta.
   Estavam a descer o Distrito do Ferro quando Ugo acordou. Não se recordava de nada após a investida inicial e achava estranho as dores que sentia nas costelas e no rosto.
     - Você perdeu o controle e foi pra cima dos bichos... Eles devem ter te dado uns golpes, mas parece que não restou nenhum pra cantar vitória. - disse Gadeus.
     Feliz consigo mesmo, o meio-orc quase esqueceu do fato de ter perdido o machado e a cota de malha. Na entrada do Distrito, receberam a recompensa pelo trabalho, após relatar parte do que acontecera.

     Assim, os três decidiram ir até o cemitério, encontrar, senão ajudar, os outros dois membros do grupo. Gadeus e Ugo começavam a ouvir o sussurro discreto dos pensamentos daqueles que estavam em volta, compreendendo rapidamente o que acontecia.

    Cena 6: Quietus

    - Igual eu estou sentindo que você tem um brilhinho aí na sua bolsa. - continuou o velho.

    Laurana levou instintivamente a mão à bolsa, que logo começou a emitir um brilho intenso. Rafiki sentiu o Poder ampliar e ampliar, como uma bolha. E fez-se silêncio.
    Todo o som desapareceu como quando se afunda completamente na água parada de um lago. A sensação de surdez repentina deixou a todos desconfortáveis e engoliram em seco, tentando consertar a audição, mas não conseguiram ouvir nem mesmo o som de suas gargantas. Piscaram, aturdidos, e mexeram nos próprios ouvidos, mas o som realmente desaparecera.
 
    Brianna, Gadeus e Ugo chegavam ao Cemitério Verdevale quando tudo ficou em silêncio. Viram guardas e pessoas se desesperarem. Já não bastava o terremoto... O que mais havia de acontecer por ali?
    Ambos, elfo e meio-orc, através daquele poder estranho que a espada os havia imbuído, puderam ouvir os pensamentos confusos e desesperados daqueles homens e mulheres.
    Na confusão, ultrapassaram o perímetro criado pela guarda e seguiram o sussurro distante dos pensamentos de seus dois amigos.

    Com gestos, Laurana, Kaly e Rafiki se dispuseram a sair da tumba, mas bastou chegar à porta para hesitarem. Do outro lado ainda podiam ver os mordedores se debatendo contra a fresta.

    Caminhavam entre as lápides quando Gadeus e Ugo ouviram um choro. Estranho e confuso como todos os pensamentos que ouviam, vinha de algum lugar próximo e, com gestos e tal telepatia, decidiram investigar.
    Recostada numa lápide havia uma garotinha de cabelos castanhos, presos em dois montinhos dos lados da cabeça. Estava num vestido rosado cheio de babados e laços, roupas muito estranhas mesmo para uma menina da nobreza.
    - Cadê meu pai? Eriol, Eriol... - chamava ela, em pensamento, em meio a uma profusão de imagens absurdas e abstratas de lugares cheios de luz, pessoas com asas, fogo e cristais de gelo. - Eriol, cadê você?
     Ao se aproximarem, receberam o olhar profundo e azul da garota, que - naquele silêncio sobrenatural - falou com uma voz infantil tão profunda quanto o som de uma harpa.
      - Fiquem longe! Quem são vocês?! CADÊ MEU PAI?!
      Pararam por um momento, antes de se aproximar lentamente, tentando pacificar a estranha menina.

    Laurana, Kaly e Rafiki ouviram a voz infantil projetar-se naquela quietude. Assim também, os mordedores ouviram. Todos pararam daquela maneira estranha que fizeram ao encarar Laurana, então viraram-se e, sem nenhum som, partiram em disparada na direção da voz.
     Temendo pela segurança da portadora da voz, os três forçaram a abertura da porta e seguiram as criaturas às pressas.

     Com algum esforço, Brianna conseguiu acalmar a garota, mesmo sem o uso da voz e - desabando em lágrimas - a menina abrigou entre os braços da imensa guerreira dragão. Tão logo a aventureira abraçou a menina, o som voltou ao mundo como uma imensa onda que esvazia o mar antes de se arrebentar contra a costa.

     - Qual é seu nome? - perguntou Brianna.

     - Eu quero meu pai! - resmungou a menina.

     - Calma, eu vou levar você pro seu pai. - disse a draconato, acariciando os cabelos finos da garota. - Mas preciso saber seu nome e o nome do seu pai.

    - Eu sou Eco. - disse a garota, fungando. - Meu pai é o maior mago do mundo. Eriol.

    - Hummm... Tudo bem. Vou levar você até ele.

    Eco assentiu e começou a brilhar. Como se estivesse se tornando uma estrela, ela brilhou até que não fosse possível encará-la. E quando a luz desapareceu, não havia mais uma garota, mas uma carta comprida no lugar com um desenho rebuscado e fantástico da garota, subscrito por seu nome numa caligrafia floreada.

     - As cartas estão se libertando. - concluiu Ugo.

    Gadeus assentiu. Então ouviram a corrida desenfreada dos seus amigos e o som ligeiro de muitos pés.
    Quase não tiveram tempo de sacar as armas. Os mordedores vieram de todos os lados.

   Cena 7: Massacre de Gnomos

    Brianna, chocou o escudo contra o primeiro que se atirou contra ela, jogando-o contra uma lápide, que se partiu, e partiu em dois pedaços o segundo num único golpe de machado.
    Ugo, segurando seu machado restante com ambas as mãos, fendeu o crânio de um mordedor com um golpe, enquanto Gadeus assumia sua postura de combate. Cercado, o monge esperou que investissem contra ele antes de desferir sua habilidade: com a velocidade que apenas um monge teria, moveu os punhos para cima e para baixo, para um lado e para o outro, girando no próprio eixo. Cinco mordedores caíram imóveis ao seu redor.

    Laurana arremessou uma faca antes mesmo de se juntar aos amigos, acertando uma criatura no ar e derrubando-a no meio do salto. Saltando na direção de uma tumba, um passo e outro na parede, a elfa chegou ao topo, recuperando a faca e degolando outro monstro com um golpe duplo no pescoço.

    Kaly moveu as mãos em círculo, juntando novamente aquela energia fria, que desferiu na direção daqueles que restavam em volta de seus amigos. Um a um, as criaturas paralisaram, envoltas em uma camada de gelo.

     O velho, Rafiki, se juntou àqueles que para ele eram estranhos, ajudando-os no combate tão desvantajoso. Saltou no meio dos mordedores que ainda não haviam se juntado ao combate, golpeando o cajado no chão e pronunciando palavras antigas. O topo brilhante de seu cajado trovejou e de repente havia um manto de relâmpagos dançando em volta do velho, sibilando e lambendo o chão.
     Os mordedores que convergiram ao seu redor foram alvejados por raios elétricos e se debateram, terminando carbonizados. Com um giro do bastão, Rafiki golpeou outra criatura que se inclinava numa lápide para atacá-lo, e o relâmpago se enroscou no cajado explodindo o mordedor e levando-o ao chão.

   Golpeando, girando e golpeando. Com o machado firme nas mãos, Ugo derrubou mais três daqueles estranhos gnomos, enquanto Brianna abria caminho entre os restantes com seu escudo e os elfos nos seus calcanhares. Por fim, o último gnomo pereceu e puderam respirar.
   
     Estavam exaustos e haviam sido feridos algumas vezes pelos dentes afiados dos mordedores, por isso, decidiram voltar à hospedaria antes que anoitecesse, para comer, beber e discutir. Embora não conhecessem o velho, sua demonstração de altruísmo e impressionantes poderes foram o suficiente para que o convidassem a beber consigo - o que Rafiki prontamente aceitou, pois não sabia onde estava ou quanto tempo passara dormindo, e aquele grupo improvável podia dar-lhe respostas.
 
     Assim, saíram do cemitério, resgataram a recompensa por aquele massacre e - com moedas a tintilar nos bolsos - procuraram pelo bar mais próximo.

Considerações: Esse foi um post absurdamente longo, mas eu queria avançar um bocado com a história. Agora, Rafiki entra no grupo e a primeira carta se liberta. Tentei bastante para poder colocar a digníssima frase "preciso de luz aqui dentro", mas estou cansado de escrever e vou parar sem muitas considerações.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Resumo de Sessão #3 - Os Esgotos de Roarc

    Salve! Este é o terceiro resumo das sessões de campanha mais antigas, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

   Na sessão anterior (embora talvez tenha sido na mesma sessão), vemos o acréscimo de mais dois personagens ao grupo: Kaly e Brianna. Após uma luta tremendamente desvantajosa contra uma horda de mortos vivos, o grupo encontra uma caverna, enfurece um orbe mágico e - após quase serem soterrados - voltam ao deserto, já durante o dia.

Capítulo 3: Os Esgotos de Roarc

   A trilha fria deixada por Azira tornava-se cada vez mais difícil de seguir e os aventureiros viram-se cada vez mais incertos quanto ao rumo que deveriam tomar na terra seca e infértil das terras baixas. Descobriram que Brianna estava viajando para o leste também, em busca de informações sobre a manopla antiga que seu protetor a havia encarregado de proteger. Após dias peregrinando, o grupo finalmente voltou a encontrar campos gramados e colinas, mas seus mantimentos já estavam tão escassos que a visão do verde pouco os animou.


   Nenhum deles tinha grande experiência como caçador e nem mesmo um arco curto tinham à disposição para acertar um dos pássaros que voavam sobre suas cabeças. Lebres se afastavam rápido demais para que as capturassem e nenhum reflexo de água era visto há dias.

   Neste ponto, a trilha de Azira tomou a direção norte. Ao longe, avistaram uma grande cidade. Diante da difícil decisão, preferiram rumar para a cidade, onde poderiam recuperar suas forças e conseguir algum dinheiro para comprar mantimentos antes de continuar a perseguição. Assim, no cair da tarde, o grupo de aventureiros ingressou nas ruas tortas e sujas de Roarc. 

   Após um jantar apressado, os aventureiros conversaram com alguns homens de negócios da cidade, vendendo seus serviços em troca de algumas moedas. Após a barganha, já no fim da noite, fecharam um contrato com um grande mercador da cidade. Alguém havia roubado uma peça de sua coleção, uma espada que lhe era muito querida. Seguira o rastro até onde pudera, mas o ladrão se evadira para o esgoto e ele não se atrevera a seguir, pois uma infestação de criaturas estranhas estava fazendo ninhos sob as ruas.

   Após uma reconfortante noite de sono e um café da manhã melhor do que tudo que haviam comido durante as últimas duas semanas, o grupo se preparou para a missão. Com poucas informações além do formato da espada, afiaram as lâminas e prepararam suas tochas e lamparinas.
 
  Descendo por uma escada estreita na periferia da cidade, o grupo chegou num túnel escuro e abafado. Embora chamado de esgoto, a grade de túneis subterrâneos era em sua maior parte um escoadouro, apenas uma parte menor realmente fluía com excrementos humanos.

   Rastros de passos se destacavam no chão úmido e logo puseram-se a caminho, enveredando por esquinas e longos túneis de pedra.  Numa encruzilhada, viram uma ponte enferrujada de metal, presa por correntes ao teto e balançando suavemente sobre um redemoinho metros abaixo, como um imenso ralo.
       Atrás deles, no escuro além do tremular de suas chamas, ouviram ruídos e passos. Os elfos, através da penumbra, enxergaram silhuetas pequenas e esguias saindo das paredes ou surgindo das esquinas mais distantes. Da escuridão, uma pedra assobiou no ar, atingindo Gadeus na face.
       Dos outros túneis, surgiu outra dúzia destas criaturas. Do tamanho e com a massa corporal de uma criança raquítica, tinham faces compridas e distorcidas. A pele era escura e áspera, com unhas compridas e olhos fundos e baços, quase negros. traziam pedaços de cano enferrujado e barras de aço retorcido nas mãos.
     Dividindo-se, o grupo partiu para a ação, antes que fossem completamente cercados. Com a agilidade da sua raça, os elfos correram sobre a ponte que balançava, dando combate às criaturas que vinham da frente; Ugo sacou um de seus machados, assim como Brianna tirou o seu, com tochas numa mão e machados na outra, os dois voltaram pelo túnel, combatendo os inimigos que vinham por trás. Atento para ambos os combates, Kaly permaneceu no centro, para dar suporte aos aliados à frente e atrás.
    
    Enquanto os dois guerreiros dilaceravam os inimigos com golpes de machado, Laurana dançava com facas entre meia dúzia daqueles monstros. Gadeus arremessou um dos adversários para o esgoto abaixo e Kaly esticou a mão, conjurando um disparo gelado de força arcana; as duas criaturas tocadas pelo raio paralisaram, recobertas por uma casca de gelo.
    No calor da batalha, Gadeus errou um de seus golpes, atingindo com toda a força uma das correntes que sustentavam a ponte. O som metálico ressoou pela câmara e toda a estrutura metálica pendeu para um dos lados. Laurana largou uma das facas que trazia à mão e saltou de lado, agarrando-se à barra da ponte. Com grande estrondo, outra das correntes estourou, desmoronando pedras e poeira sobre eles. Todas as criaturas restantes, desesperadas, rolaram pela grade enquanto a ponte balançava de um lado para o outro, presa ao teto por apenas duas correntes.

    Gadeus tentou, mas não conseguiu se segurar e mesmo com a tentativa de Laurana de salvá-lo, o monge seguiu os inimigos, caindo na água turbulenta abaixo. A força da correnteza o fez girar e girar, e apesar de seus esforços para permanecer na superfície, engolia mais e mais água. Estava prestes a perder a consciência, quando o menino anjo juntou todas as forças que lhe restavam para projetar um fluxo de energia fria e densa na direção da água.
   Guiando o jorro de poder com ambas as mãos, Kaly congelou toda a superfície, impedindo que Gadeus se afogasse. Tossindo e tremendo, o monge se puxou para cima do gelo, arrastando-se na direção do amigo. A camada de gelo tremia vigorosamente, na medida em que o redemoinho tentava romper a prisão congelada que o mantinha quieto.

    Velozmente, Ugo tirou a corda que trazia na bolsa, jogando-a para o elfo lá embaixo. Um segundo depois que Gadeus segurou a trança, o gelo se rompeu, mas Ugo e Brianna uniram-se para trazê-lo à segurança. O monge desmaiou, mas Kaly forçou sua consciência, curando-o, para que o elfo vomitasse toda a água que engolira. A este ponto, Laurana já tinha se equilibrado sobre a borda da ponte e voltado para o túnel do qual vieram.

    Sem ter como avançar, o grupo procurou outro caminho e vagou pelo que pareceram horas a fio, antes de encontrar uma câmara iluminada por lamparinas, na qual um homem velho e careca comia uma massa escura num pote de barro. Num canto, junto de outras peças de saque, jazia a espada que procuravam. Exigiram o item de volta, sacando as armas, mas o velho apenas riu uma com uma voz cacarejante.
    Das sombras atrás dele, três lagartos grandes como cavalos surgiram. Um fino e esguio, com patas compridas; um grande e musculoso, com imensos dentes à mostra; e um gordo e cambaleante, com papadas iguais a de um sapo.

    O combate foi difícil. Laurana saltou sobre o velho, mas foi interceptada pelo lagarto mordedor e derrubada no chão entre os três.
    Embora Kaly tenha congelado e estilhaçado o lagarto mais esguio assim que ele partiu sobre o grupo, a criatura semelhante a um sapo berrou um som agudo, que feriu os ouvidos de todos. Ugo, que estava bem diante dela, caiu, desacordado. As tochas jaziam no chão e, no escuro quase completo, os aventureiros não sabiam o que ocorria com Laurana.
    Gadeus saltou sobre o monstro, perfurando sua garganta com um soco poderoso, antes que ela pudesse gritar novamente. O velho sacara a espada, tentando golpear o monge pelas costas, mas Brianna bloqueou o golpe.
    O menino anjo curou o bárbaro que ergueu-se com a fúria nos olhos. Temendo que o meio orc atacasse os próprios companheiros, Kaly usou de toda a sua energia para curar novamente Ugo, de forma que este retomasse sua plena consciência.
    Enquanto isso, Laurana (com um azar desgraçado nos dados) era atacada outra e outra vez pelo lagarto que a agarrara. Sob a criatura, a elfa tentava se proteger, tomando dentadas e dentadas nos braços e ombros. Aos gritos e prantos, coberta do próprio sangue, a ladina sacou uma das facas, afastando a criatura de si com uma mão e degolando-a com a outra.
    Por fim, Ugo saltou sobre o cadáver da criatura que Gadeus derrubara, golpeando o velho no ombro com seu machado e partindo a carne do homem até o externo. Ensanguentados e atordoados, os companheiros recolheram o saque do velho, curando-se com o que restava na energia do meio anjo, antes de voltar à superfície.

   No estado em que estavam, só poderiam seguir atrás das recompensas no dia posterior. Por isso, encontraram a hospedaria mais próxima e, pagando o que lhes foi pedido, aceitaram as camas, ávidos por descanso.

   Considerações: Pois é... Talvez eu não tenha conseguido passar ao escrever, mas essa foi uma das sessões mais tensas que nós tivemos. Nessas horas de jogo, vimos os PJs quase morrerem MUITAS VEZES. Muitas, mas muitas mesmo. Afogados, mordidos, gritados, congelados, perfurados e etc...
    Foi AQUELA sessão, regada de lágrimas e com a Julia falando "meeeeeu irmãããão, a gente vai se fudeeeeeer" a cada cinco minutos. Enfim, um jogaço. Assim, os PJs começaram a sentir o ritmo de jogo e como é fácil perecer nas minhas mesas.
  

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Narrativa #1 - Os Juízes do Silêncio

    Salve, salve, salve! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

Narrativa #1 - Os Juízes do Silêncio

    A sala estava cheia de pó escuro. Pedaços de vidro e hastes de metal jaziam por toda a parte. Várias poções haviam se derramado sobre as mesas e rolos de pergaminho agora se desfaziam na solução que borbulhava no chão.
  
   Parnacus não fora conhecido por seu autocontrole durante a vida. Agora, semivivo dentro daquele orbe, isto não mudara. Podia ver e ouvir o que se passava do outro lado do mar, no recôndito de cada floresta, mas não podia mover a si mesmo. Embora tivesse se tornado quase um deus, havia um preço. Sua consciência transcendente se perdia em devaneios frequentes e isso o assustava. A cada dia, temia deixar para trás aquilo que o individualizava, se mesclando à Vontade da natureza. Temia se perder em viagens astrais, incapaz de saber quem era ou de onde viera.

    O corpo do velho estava no chão. Descansava a cabeça numa poça do próprio sangue. Parnacus trespassara seu crânio com uma estalactite durante o acesso de fúria.
   Na penumbra verde, o espírito cristalizado do arquimago pensou e refletiu. Horas se passaram, dias. Para ele pareciam meses, anos, séculos. Após mergulhar na memória e na profunda consciência que adquirira, foi acometido por uma epifania, e o orbe brilhou com seu ímpeto.

    Como a serpente que rasteja para fora da toca, a consciência de Parnacus deslizou para fora da caverna e por sobre o deserto. Buscou longe entre as mentes fervilhantes de uma grande cidade, até encontrar quem procurava.

    Sethrakian, o juiz. Já em idade avançada, o homem tocava um bar, fachada para uma academia subterrânea, na qual ele treinava caçadores de monstros. Homens e mulheres motivados por sentimento de vingança contra criaturas noturnas; sentimento esse que Seth moldava para criar os melhores exterminadores que Tellerian pudera conhecer.
    Diferente dos paladinos, aqueles que Seth treinavam não se submetiam a deus algum. Não usavam da magia branca. Agiam como foras-da-lei, invadindo casas e castelos como gatunos, carregando lâminas escondidas, armas contrabandeadas de Khalifor e apetrechos mecânicos criados pelos povos orientais.

   - Seth... - chamou o Orbe e o velho parou de limpar a mesa que esfregava com vigor.

  - Você de novo, hein? Io non irei ser novamente capacho. - pensou Seth, respondendo ao arquimago.

  - Sabes que eu vejo a tudo, Sethrakian. Há algo que tu deves fazer por mim. - com sua magia, o orbe mostrou ao velho lampejos de memória, dando-lhe conhecimento do grupo que entrara em sua caverna e a carga tão preciosa que eles carregavam - Tens de tomar estas cartas de volta, homem velho. Ou ensinar a estes noviços como domá-las.

   - Já tenho mais discípulos do que quero. Dispenso.

   - Eles estão a combater o elfo escuro também.

   À menção daquele, o velho se empertigou. Olhando para sua bengala negra, cujo lobo de prata no topo o encarava, Seth pigarreou.

   - Então nossos caminhos hão de se cruzar.

   - Um deles irá se separar dos outros. Se não achá-lo antes, o outro vai tomar para si uma das cartas.

   - Basta. Leva essa tua voz irritante para outro lugar, tenho coisas para cuidar.

   Tão logo a presença de Parnacus se desfez, Seth sentou na cadeira atrás do balcão. Agarrando o topo da bengala com firmeza, girou o lobo no próprio eixo e o objeto estalou. Lentamente, puxou a lâmina que trazia escondida dentro do bastão escuro.

   - Kisara! - chamou ele. 

  Uma garota de cabelos castanhos e curtos surgiu de uma porta atrás dele. Trazia uma boina verde na cabeça e vestia um casaco de couro marrom.

  - Sim, Seth?

  - Pegue suas coisas e chame os outros juízes.

  - Todos?

  - Se eu mandei chamar os outros, é porque são todos, garota tola. Sim, todos. Nós estamos saindo em missão.

  - E como fica o bar?

  - Esqueça o bar, garota! Há coisas mais importantes com as quais nós devemos nos preocupar.   
  

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Resumo de Sessão #2 - A Joia dos Mistérios

    Salve! Este é o segundo resumo das sessões de campanha mais antigas, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Embora eu estivesse achando que seriam apenas três resumos gigantescos, percebi que prefiro posts menores, para que fique bem pontuados os momentos de cada sessão. Assim fica mais fácil de lembrar o que aconteceu e a leitura não fica muito pesada.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

   Na primeira sessão, vemos as primeiras escaramuças de três personagens (Ugo, Gadeus e Laurana) com a elfa que levou Gadeus a matar o próprio amigo. Numa aliança temporária, os três se unem para caçar e eliminar a bruxa. Assim, seguindo a trilha deixada por sua carruagem sem cavalos, os companheiros adentram na terra seca que antecede o deserto.

Capítulo 2: A Joia dos Mistérios

   Em sua caçada à elfa bruxa, Azira, os três companheiros adentram no deserto. O esforço de subir e descer dunas logo leva ambos os elfos à exaustão e, pouco a pouco, a água que traziam se esvai. Ao longe, Laurana avista o reflexo esperançoso de um oásis, para o qual se dirigem imediatamente.
   
   Kaly, o meio anjo, enviado em busca das Cartas de Eriol, é direcionado pela aura mágica do artefato, caindo no deserto. A caixa que Laurana encontrara, não sabia ela, continha as quarenta cartas que o anjo procurava. A emanação da Graça do meio anjo caído criou um pequeno bosque no meio do deserto, produzindo água onde antes apenas areia havia.

    Os três viajantes tão logo chegaram ao oásis, encontraram o meio anjo, que tomara a forma de um menino. Anoitecia, e não tiveram outra escolha além de montar acampamento ali mesmo. À proximidade do pequeno, a caixa que Laurana trazia na bolsa reagiu, brilhando e revelando um enigma em uma de suas faces. Kaly, evitando contar sua origem extraplanar, explicou o que a caixa continha, tentando convencer a elfa de que era por demais perigosa para ser aberta.

   Laurana, no entanto, apenas se interessou ainda mais pelo objeto, recusando-se a ouvir o garoto. Para que sua missão não fracassasse, Kaly sugeriu que o levassem consigo, demonstrando ser útil ao curar os ferimentos que Azira infligira à Gadeus e Ugo. Restaurados, os dois combatentes logo se puseram a favor da companhia do estranho garoto.

    Pela manhã, puseram-se à caminho. A trilha deixada pela carruagem de Azira desaparecera, mas por algum motivo, o pequeno rapaz conseguia enxergar o rastro mágico deixado por ela. Ainda mais satisfeitos por acolher o garoto, Gadeus e Ugo deixaram que Kaly os guiasse, caminhando durante todo o dia. O crepúsculo chegou e com ele os problemas. Ambos os elfos viam, na penumbra, seres se aproximando por todos os lados. No escuro, puseram-se a fugir, procurando um lugar onde pudessem lutar com a vantagem. Ambos os elfos, exaustos, já não conseguiam mais dar um passo e Ugo, numa demonstração de força sobrehumana (e uma ajuda muito grande dos dados) colocou ambos os elfos sobre os ombros, subindo toda uma duna a carregá-los.

   Do alto, viram um vale iluminado pela luz do fogo. Um guerreiro imenso lutava sozinho contra meia dúzia destas criaturas inumanas. Com uma tocha numa das mãos e um machado na outra, o combatente lançava ataques de um lado e de outro, recuando cada vez mais.

   Ugo soltou os elfos, sacando os machados. Se era assim, ele lutaria também. Numa corrida desenfreada e ensandecida, o meio orc desceu a duna, se juntando ao guerreiro desconhecido no combate aos mortos vivos que o cercavam. Sem opção, os outros companheiros se juntaram ao embate, mas estavam em desvantagem numérica. Ao longe, Laurana avistou um tabuleiro de pedra, uma elevação sobre a qual teriam uma chance de vitória.
   - Gadeus! - gritou ela, apontando para a ilha.
   O elfo assentiu e, juntos, tentaram abrir caminho para correr até o local, mas estavam sendo subjugados. Em mais uma demonstração de poder, Kaly ergueu as mãos, convocando uma magia de esconjuro: a luz forte transformou a noite em dia por alguns segundos e uma dúzia de mortos vivos inflamaram, queimando com um fogo branco. A devastação causada pelo garoto anjo foi o suficiente para que tomassem a dianteira, subindo o íngreme planalto. Estranhamente, as criaturas - que já somavam duas dezenas - pararam de persegui-los tão logo os aventureiros subiram no planalto. Sem chance contra tantos, recuaram, avistando uma caverna.
 
   O guerreiro desconhecido era um draconato. Uma guerreira das tribos de draconatos escuros, Brianna. Após apresentações apressadas, o grupo cautelosamente entrou na caverna, procurando por uma saída que os levasse para longe daquela horda de mortos vivos.  

   A caverna, escura, logo passou a ser iluminada por uma luz verde que tremulava, como o reflexo do sol num lago. A iluminação fantasmagórica lhes deixou temerosos, mas - de armas em punho - ingressaram na vasta câmara de onde se originava o brilho. Estavam numa espécie de laboratório. Estantes e mesas cheias de páginas e pergaminhos estavam dispostas desordenadamente. Vidrarias de alquimista, caldeirões e peças metálicas estranhas estavam jogadas por todos os lugares. Um homem velho e calvo estava a preparar uma solução escura, sem nem mesmo dar-lhes qualquer atenção.

   O brilho verde vinha de um orbe. Uma imensa gema esférica que brilhava, pulsando como se estivesse viva. Dentro dela, sombras e vultos deslizavam como fantasmas, sussurrando coisas indistinguíveis.

   Os companheiros se espalharam pela sala, observando o local. Brianna se aproximou do velho, percebendo que ele tinha um olhar vazio e a expressão vaga de quem está em coma. Apesar disto, ele continuava a trabalhar, como se estivesse sonhando.

   Gadeus se aproximou da jóia, examinando-a com interesse. Enquanto isso, Laurana havia paralisado, sem que ninguém se desse conta. Numa voz grave e ressonante, primeiro baixa como um sussurro, até reverberar nas paredes da caverna, o orbe falou:

    - Trazem consigo um poder imensurável. Hão de atormentar os fracos com este poder. Irão submeter os inimigos. Perder os aliados. Ao fim, ordem emergirá do caos. Verdade, do esquecimento. Vida, a partir da morte. Irão destruir... Para então aprimorar.

   Muitas visões se passaram nas mentes de cada um. Laurana piscou repetidamente para retomar o controle de si mesma. Os companheiros olhavam uns para os outros, sem entender o que havia acontecido, tendo a sensação de que muito tempo se passara naquele sonho acordado.. Gadeus se viu com a mão apertada contra o orbe e logo recuou. A bolsa da elfa emanava luz, pois novamente a caixa reagia ao ambiente.

   Brianna, na curiosidade embrutecida de sua raça, tentou parar o velho, chegando a empurrá-lo, para que saísse do feitiço em que estava, isso - no entanto - enfureceu o orbe. A fúria da joia misteriosa fez tremer a caverna, derrubando estalactites. O poder devastador do orbe lançou pergaminhos, mesas e outros objetos ao ar, ferindo todos na sala. Aos berros, a companhia fugiu da caverna antes que fossem soterrados.
   O sol se erguera e a horda se dispersara. Estavam a salvo, por hora.

    Considerações: Esse resumo juntou alguns dos acontecimentos da segunda sessão de jogo (tenho certeza que esqueci de alguma coisa, mas não me julguem - faz tempo pra caramba). Mudei alguns acontecimentos, para que as coisas fizessem um pouco mais de sentido e ficassem melhor no texto, mas acho que não foi nada absurdo. Com isso, se juntam ao grupo mais dois jogadores e fica faltando apenas dois: Arthur e Luis, esse ultimo que só entrou lá na frente.
    Desventuras à parte, não houve nenhum desenrolar muito grande de história, mas isso é comum, já que o jogo é sandbox e quem decide o rumo da história são os jogadores. Esses carinhas de nível baixo passam por cada aperto... Sem dinheiro para mantimentos, vão ter de ralar pra conseguir dinheiro, passando perto de morrer várias (e são várias mesmo) vezes.
   Com isso, alguns dos ganchos de aventura são lançados, com o grupo descobrindo a importância da caixa que Laurana havia encontrado. As Cartas de Eriol, que vão ter um peso muito grande no futuro. Enfim, é isso aí.
   Até a próxima.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Resumo de Sessão #1 - Um Grupo Improvável

    Salve! Este é o primeiro de uma série de resumos das sessões de campanha mais antigos, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Antes que os reportes de verdade comecem, farei uma narração um tanto apressada dos eventos decorridos durante as sessões dos últimos meses.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), o elfo monge Gadeus (Neto), o bárbaro meio orc Ugo (Caio), o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), a paladina draconato Brianna (Marcela) e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur).

Capítulo 1: Um Grupo Improvável

    Durante a primeira sessão de campanha, a aventura se inicia com um atordoado e desmemoriado meio-orc, Ugo, acordando numa vila. Tendo em mãos vários pertences roubados e uma população revoltada atrás de si. Numa fuga desenfreada, o azarado meio-orc fere alguns dos aldeões, incitando a fúria da população. Tendo poucas chances contra tantos, Ugo foge para a floresta, seguido de perto por dois caçadores.

     Na floresta, dois elfos camponeses investigam um rastro de homens mortos na orla do bosque e avistam ao longe o meio-orc em fuga. Ferido, Ugo desmaia e é levado por Gadeus para uma casa dentro do bosque. Antes de seguir o amigo, Laurana revista os mortos caídos no chão, encontrando algumas moedas e uma caixa, que rapidamente esconde nos bolsos de suas vestes, guardando um sorriso para si mesma.

    Mais tarde naquela noite, Ugo acorda amarrado numa cadeira e, interrogado pelos elfos, explica que na verdade estava a caçar um grupo de assassinos e foi enfeitiçado por uma elfa negra; ao sair do feitiço, viu-se cercado por homens e segurando pertences roubados. Sem ter como explicar, fugiu da vila, sendo caçado pelos homens que deveria capturar.

    O elfo monge reflete sobre a história do cativo, lembrando da única elfa negra que conhecera: Azira, aquela que o transformou no assassino do melhor amigo. Após uma curta discussão, Gadeus e Laurana decidem agir em prol do meio-orc, desamarrando-o e saindo da floresta enquanto ainda estavam encobertos pelo manto da noite. Na orla da floresta, cercam dois dos assassinos visados por Ugo e entram em combate. Enquanto o meio-orc duela furiosamente com um inimigo, o elfo monge desacorda o outro adversário e Laurana, num golpe pelas costas, degola o segundo.
 
   Colina abaixo, as luzes das tochas se espalham por todo o leito do rio, procurando por Ugo. Aproveitando-se da ausência de tantos aldeões, Gadeus resolve guiar os dois companheiros vila adentro,  decidido a confrontar a elfa negra. Inflado com um desejo de vingança, Ugo rapidamente concorda e os três furtivamente atravessam o rio.

   Dentro da pequena vila, localizaram a carruagem na qual Ugo vira a elfa chegar à cidade. Separando-se dos dois parceiros, Laurana escalou a hospedaria, invadindo-a através da janela e buscando pelo quarto da bruxa.

   Tão logo a gatuna desapareceu, Ugo e Gadeus perceberam que a carruagem começava a se mover, mesmo sem cavalos. Na tentativa de impedir que a criminosa lhes escapasse, o meio orc atravessou o caminho do veículo, sendo atropelado por ele. Uma das portas abriu e, com a calma e a frieza da primeira neve de inverno, Azira desceu.
    Vestida com um manto de pele cinzenta e roupas de couro batido, a elfa negra levantou a sobrancelha, fixando os olhos em Gadeus. O olhar de aço da bruxa ferveu o sangue do elfo e quando ela, na sua sarcástica voz, lhe perguntou:
   - O que faz nestas terras, Gadeus? Há mais algum amigo aqui no qual desejas atirar?
   Em fúria, o monge investiu contra ela, que moveu a mão, invocando uma estaca de pedra do chão, com o som de uma manada de elefantes. A estaca se chocou contra o elfo, jogando-o no ar.
   Ugo partiu para o ataque, mas mal empunhara os machados e Azira o prendeu, criando muros altos de rocha em sua volta. Gadeus curvou-se, fincando um joelho no chão, tinha sangue manchando as roupas, apenas para ver a carruagem novamente se deslocando na direção do deserto.
   Azira partira, após humilhá-lo novamente.
   Os golpes furiosos do meio-orc logo derrubaram uma das paredes e - após o retorno de Laurana, que nada disse sobre o que estivera fazendo - reuniram-se fora da vila, escapando das luzes dos aldeões.
   Ali, no escuro, pactuaram de encerrar a vida daquela elfa, não importando a que custo.

   Considerações: Num resumo um tanto superficial, esta foi a primeira sessão da nossa campanha. Muitos detalhes se perderam da minha memória, pois já faz seis meses desde que isto aconteceu. Poucos eventos grandiosos, sem nenhuma batalha de peso ou personagens perto da morte (vai acontecer bastante). Vemos três dos personagens se reunirem numa causa comum, sem grandes amizades - que serão bastante fortalecidas por essas tais experiências de quase morte.
   Apesar disto, conhecemos uma da antagonista mais odiada, Azira, que na verdade é uma personagem de outra mesa antiga. Aliás, muitos dos personagens que aparecem nas Pré Narrativas são PJs de outra mesa. Kha, Nuitaro e Azira foram todos PJs de um grupo antigo.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Pré-Narrativa #8 - Hogg, O Filho da Serpente

    Salve! Este é o início de uma série (muito provavelmente longa) de reportes de aventura, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Antes que os reportes comecem, inicio com a narração de eventos muito anteriores à campanha, consistindo de alguns eventos dos backgrounds do personagem e bases da história.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), o elfo monge Gadeus (Neto), o bárbaro meio orc Ugo (Caio), o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), a paladina draconato Brianna (Marcela) e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur).

Pré Narrativa #8 - Hogg, O Filho da Serpente
  
   As raças goblinóides de Tellerian, sejam orcs, ogros ou goblins; possuíram uma civilização durante a Era da Criação. Orcs foram por muito tempo os guardiões das florestas, druidas e rangers cuja religião se voltava ao culto da natureza. Goblins, espertos por natureza, criaram muitos dos utensílios que hoje os humanos usam no dia-a-dia, como as rodas, os barcos e as represas.
   No entanto, quando Nidufag, o Rei Cinzento, morreu, seus muitos filhos começaram uma guerra pelo trono. Pressionados a entrarem numa aliança, os goblins se afastaram de seus parentes maiores. Os ogros, raça naturalmente selvagem, se separaram em pequenos grupos, mudando-se para lugares remotos.
    Assim, os treze clãs dos orcs guerrearam, comandados pelos treze filhos de Nidufag. A guerra os levou à ruína e sete clãs foram dizimados. Com a conta dos anos aumentando, pouco a pouco os orcs esqueceram o motivo de sua guerra, e quando o conflito cessou, nada mais restava de sua civilização.

   Muitas das cidades de rocha que haviam construído foram tomadas por anões, seus rivais. As cidades portuárias que haviam construído junto dos goblins, tomadas por homens. Suas vilas e suas clareiras ritualísticas, completamente dominadas por orelhas pontudas. Tudo que um dia construíram não pertencia mais a eles.

   Feridos, cansados e perdidos, os clãs iniciaram seu êxito. Bermarc foi para o norte com seus filhos, netos e bisnetos - o filho pródigo de Nidufag resgatou um pouco da glória do pai nas terras geladas do norte, gerando uma genealogia de orcs brancos. 

  Sirufax tentou cruzar o mar, mas muitos de seus barcos afundaram e ao chegar em Khalifor, foram afugentados pelo povo negro que lá vivia, tornando-se pouco mais que nômades bárbaros. Gragga e sua prole adentrou nas montanhas, tentando resgatar suas cidadelas subterrâneas e lá vivem até hoje - orcs negros de olhos imensos, os inimigos mais temidos dos anões.
  Segga e Brod uniram-se e foram para o sul, entrando nas florestas inexploradas para nunca mais voltar.

   Mas o filho mais terrível de Nidufag, Rarlok Lobovermelho, reuniu a sua volta os mais monstruosos dos seus. Distorcendo as tradições druídicas de seu povo para um culto sanguinário aos espíritos dos lobos, Rarlok gerou um clã imenso, devasso e furioso. Orcs brutos que cruzavam entre si e com animais, estupravam quaisquer fêmeas que capturassem, gerando filhos ainda mais cruéis.
Hogg, O Filho da Serpente

  Esse povo inescrupuloso e desunido se tornou uma das maiores ameaças a quem quer que vivesse em Solamnia, mas felizmente eram incapazes de formar alianças. Eram. Até que Hogg surgiu.
   Alguns dos seus dizem que seu pai, Trovard, cruzou com uma serpente, alguns diriam até com uma hidra, para que Hogg nascesse. O que se sabe é que ele tem a pele como escamas de cobra.

   Hogg matou o próprio pai com uma adaga feita dos ossos da mãe morta, fosse ela uma serpente, uma hidra ou outra coisa ainda pior. Vindo de lugar nenhum, submeteu ogros no combate desarmado, como manda a tradição desta raça primitiva, aliou-se com algumas das matriarcas goblins e um a um, venceu os líderes do clã de Rarlok.

   O último deles, Dagmar, rasgou-lhe a boca, antes que fosse vencido. Assim, com todos os líderes orcs ajoelhados diantes de si, Hogg - ainda com os lábios partidos ao meio - falou para seu povo:

    - Elfos tomaram nossas florestas. Anões tomaram nossas cavernas. Homens tomaram nossas cidades. Não mais. Os espíritos da floresta me fizeram forte. Deram-me olhos como os das águias, dentes como os dos lobos, a pele imortal das serpentes e a força dos ursos. Eu sou seu líder e vos digo: o que foi nosso, nos tempos de Nidufag, será nosso outra vez, nestes tempos... Nos tempos de Hogg!
    Com um uivo animalesco, o povo goblinóide acendeu fogueiras tão grandes quanto casas, iluminando as nuvens de vermelho. Sob o comando de Hogg, louvaram seus deuses antigos uma vez mais, antes de partir ao encontro dos reinos élficos. 

Pré Narrativa #7 - O Máscara Dourada

    Salve! Este é o início de uma série (muito provavelmente longa) de reportes de aventura, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Antes que os reportes comecem, inicio com a narração de eventos muito anteriores à campanha, consistindo de alguns eventos dos backgrounds do personagem e bases da história.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), o elfo monge Gadeus (Neto), o bárbaro meio orc Ugo (Caio), o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), a paladina draconato Brianna (Marcela) e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur).

Pré Narrativa #7 - O Máscara Dourada
  
    Na longínqua terra de Hellheim, na costa oriental de Khalifor, os Uk'shumbare contam uma lenda aterradora do necromante que veio do oeste distante. Seu rosto disforme e seu corpo distorcido por feitiçarias malignas, a voz que é como o eco de uma lúgubre caverna. Renascido sob uma lua de sangue, após ser morto pelos próprios companheiros. Os selvagens temem seu nome, mas alguns exploradores voltaram com um nome nos lábios e memórias de um terror indescritível.

   Nuitaro. O negro. Aquele cuja sombra caminha. A voz oculta do pântano. O homem da máscara dourada.

   Fora um bom homem algum dia, segundo contavam. Um aventureiro, um herói. Influenciado por um mentor obscuro, decaiu até o ponto de se tornar cruel. E uma vez que se deixa as trevas entrarem, elas nunca mais se vão.

   Não levou muito tempo até que Reloah fizesse uso de suas habilidades, afinal, Azira e o mago haviam sido companheiros no passado. O elfo ofereceu ao necromante uma pequena amostra da Palavra, em troca de seus serviços e o Nuitaro aceitou.

   O máscara dourada caminhou até o centro de uma clareira, nos pântanos enevoados de Hellheim. Cortando pedaços de sua carne podre para dentro de um caldeirão de estanho, elevou sua voz, chamando entidades do mundo inferior. A lua cheia refletiu o brilho amarelo do seu rosto falso e sob a máscara, um sorriso macabro se esticou.

     Longe dali, um pequenino elfo tossiu, atraindo a atenção daqueles que estavam em volta. Doenças eram incomuns entre aquele povo. Ainda assim, a criança da floresta ajoelhou e continuou tossindo, até que manchas vermelhas se formassem no chão. Desesperados, os elfos fizeram tudo que sua magia podia fazer, mas não conseguiram impedir que aquela tosse sangrenta retirasse por completo o fôlego da criança. Pela primeira vez na história élfica, um dos seus perecera ainda infante.

    Em cada casa e em cada floresta dos reinos élficos, outras crianças da floresta começaram a tossir sangue. Os adultos sentiram-se subitamente cansados, enquanto manchas escuras surgiam em seus corpos. A praga começara.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Pré Narrativa #6 - Guerra no Céu

    Salve! Este é o início de uma série (muito provavelmente longa) de reportes de aventura, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Antes que os reportes comecem, inicio com a narração de eventos muito anteriores à campanha, consistindo de alguns eventos dos backgrounds do personagem e bases da história.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), o elfo monge Gadeus (Neto), o bárbaro meio orc Ugo (Caio), o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), a paladina draconato Brianna (Marcela) e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur).

Pré Narrativa #6 - Guerra no Céu

   A viagem entre os planos não é fácil e tais investidas geraram inúmeras guerras ao longo das eras, por tais motivos, os seres dos planos superiores e inferiores, amplamente conhecidos como anjos e demônios, estabeleceram um tratado: apenas um de cada raça poderia visitar o plano material a cada século.

  Quando a caixa com as Cartas do mago Eriol foi desenterrada, no entanto, este tratado se tornou um pacto arriscado. A raça que tivesse a posse da caixa primeiro se tornaria tão poderosa que não haveria chances para a adversária. Mas o Principado Celestial não desejava incitar uma guerra incalculável ao enviar legiões para Tellerian, o que gerou acaloradas discussões entre as facções dos anjos.

   Mas os arcanjos tinham uma arma secreta. Havia, entre eles, um meio anjo. Um ser sangue mortal o suficiente para ser enviado a Tellerian sem ser percebido. Assim, em troca de poder encontrar o meio irmão Kaelthas, Kaly foi enviado à procura das Cartas de Eriol.

   Tão logo o meio anjo foi lançado ao plano material, as facções se desentenderam. Deixar a responsabilidade sobre uma arma tão poderosa na mão de um anjo de sangue sujo ia contra as tradições.

    O Serafim Misail e o Principado tentaram argumentar, mas a tensão só aumentava. Nas sombras e em encruzilhadas perdidas no Mar Astral, Malthail - o líder dos Recípere, os anjos mercadores de almas - negociou com Cinnaelthas, uma rainha do submundo. Ele mandaria anjos a Tellerian, começando a guerra, para que Cinna invadisse a cidadela dos Principados, deixando vago o trono, assim Malthail se tornaria o líder dos Serafins.

   Cinna, no entanto, viu aí uma chance para promover a própria causa. A guerra começou e os demônios invadiram o céu através dos caminhos que Malthail ensinou à comparsa. Uma por uma, as cidadelas dos anjos caíram e as poucas facções restantes iniciaram uma guerrilha contra os invasores.

    Misail morreu, caindo ao mundo material com toda a sua guarda, levando consigo a espada do rei, Alvorada.
   Malthail, em fúria, matou com as próprias mãos a rainha do submundo que o traíra, mas o estrago já havia sido feito. O Céu estava em guerra.

Pré Narrativa #5 - Os Quarenta Espíritos

    Salve! Este é o início de uma série (muito provavelmente longa) de reportes de aventura, contando as aventuras e (mais recorrentes) desventuras do maior grupo de heróis desbravadores que Tellerian já viu. Antes que os reportes comecem, inicio com a narração de eventos muito anteriores à campanha, consistindo de alguns eventos dos backgrounds do personagem e bases da história.

    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), o elfo monge Gadeus (Neto), o bárbaro meio orc Ugo (Caio), o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), a paladina draconato Brianna (Marcela) e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur).

Pré Narrativa #5 - Os Quarenta Espíritos

  Na escuridão anterior à criação dos planos, a Espiral luzia como uma fonte infinita de energia. Um rasgo para outro universo, uma singularidade, um oásis de luz nas profundezas silenciosas deste universo.

   Desta magnífica, inexplicável e indescritível massa de energia, surgiram os Três Primordiais. Primeiro Amenti, que jorrou matéria, transformando a energia da Espiral em pó de estrela. Depois Eoth, a Artesã, que forjou os planos, separando os planos superiores e os inferiores, o plano material e os féericos, no meio do Mar Astral. Surgiram estrelas, planetas e - sem que ela desejasse - espíritos caóticos, seres de energia e consciência. Por fim, Voyu, o vigia, surgiu da Espiral, consumindo as sobras de matéria, para que o equilíbrio se mantivesse.

   Quando a massa de energia se dissipou, Eles vieram. A Raça de Ouro. Titânicos, viajaram entre os planos, colonizando-os, criando raças, criando plantas, criando e moldando e lapidando mundos e dimensões. Acalmando os espíritos, banindo seres monstruosos para o profundo Abismo e seus planos temíveis.

   Ao fim, criaram a Raça de Prata. Os deuses de Tellerian. Guardiões da criação, para que cuidassem de seu trabalho e instruíssem as raças sobre sua origem. Deixaram para estes a Palavra, a língua original, a qual o universo se dobrava. Então adormeceram e em seu sono, foram esquecidos.

  Os deuses, no entanto, não cumpriram com a tradição da Raça de Ouro; elevando-se à regentes dos mundos. Muito deste tempo foi esquecido, mas quando a Era da Criação acabou, os deuses se retiraram para um dos planos mais altos do Mar Astral, esperando e temendo que um dia a Raça de Ouro despertasse de seu sono e os punisse por seus crimes.

  Em sua pressa ao deixar Tellerian, no entanto, enfureceram alguns dos espíritos que a Raça de Ouro levara tanto tempo para acalmar. No meio do fúria destas criaturas, um homem se ergueu para trazer a paz. Não um elfo, não um dragão, não um anão. Um homem. Um dos altos homens das terras nortenhas. "Ordo ab chao." disse ele, antes de convocar o poder da Palavra, que os deuses deixaram registrada em seus antigos palácios.

   Com suas espada e cetro na mão, o homem submeteu cada um dos quarenta espíritos que habitavam o plano material, prendendo-os em cartas para que não mais aterrorizassem Tellerian.
   Por fim, o mago pôs as cartas numa caixa, trancando-a para que apenas outro mortal como ele pudesse abrir e ao fazê-lo, cansado e envelhecido por todo o esforço, olhou para o além e prometeu:


    - Vós, que se proclamam deuses, sois mentirosos. Vós, que nos abandonaram, hão de padecer de justiça e na falta desta, de vingança. Não importa que alguns nos estendam mãos para ajudar, bem sei que são no fundo egoístas. Suas intrigas e suas guerras nos levaram à miséria, nos trazendo dor. Muitos esquecerão, mas um dia haverão de acordar aqueles que vós nos fizeram esquecer.