quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Narrativa #7: O Coração da Tormenta

    Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
    Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.

Narrativa #7 - O Coração da Tormenta

- Remem, seus putos! – gritou Hollom, o imediato do Providência. – Temos um trapaceiro na nossa cola! Vocês querem morrer?! Então remem!
O navio já oscilava com violência sobre as ondas altas do mar revolto, mesmo que a tempestade não os tivesse alcançado ainda.
No convés, os marujos se agarravam aos cordames com firmeza para não serem lançados sobre a amurada. Quando o vento forte mudou subitamente de direção, o capitão foi tomado de preocupação.
- Hollom, nos coloque a barlavento. Curso sul-sudeste.
- Vocês ouviram o capitão! Curso sul-sudeste!
- Huzzah!
- Icem a vela da meneza!
A comoção foi geral, enquanto velas eram desamarradas para que o navio acelerasse. O vento inflou as asas do Providência, lançando-o numa corrida desenfreada.
A chuva os alcançou um minuto depois, atingindo o convés em um martelo d’água. Os relâmpagos iluminavam o céu, cortando as nuvens.
- Ele está perto, Hollon. Talvez precisemos... – a voz do capitão foi engolida pelo rugido do trovão.
No horizonte, uma criatura tão grande quanto o navio saltou para fora da superfície, planando com vastas asas escuras. O grito agudo do Trapaceiro das marés foi ouvido por todos apesar do barulho da tempestade.
Alguns marujos se desesperaram com a visão do dragão.  Os mais devotos começaram a balbuciar preces amedrontadas. As remadas se tornaram frenéticas.
- Hollom!
- Sim, capitão?!
- Mande trazerem alguns dos baús para o convés.
- Huzzah, senhor.
O Capitão Finn encarou seriamente a criatura, que voltava a se aproximar da água. Quando o céu voltou a escurecer, o Trapaceiro havia desaparecido.
Uma dúzia de homens surgiu carregando baús de madeira e ferro. O rosto de cada um estava dividido entre a ganância e o medo.
- Senhor, apenas os galeões sangrentos ficaram.
- Obrigado, Hollom. – Finn abriu um dos baús e fitou o outro e a prata com fúria. – Joguem no mar.
Os baús foram atirados ao mar à contragosto, ainda que todos soubessem que não havia outra escolha.
- Agora temos uma chance.  – O capitão ergueu os olhos, procurando a fera. – Voltem aos seus postos.
Diante da relutância dos homens, Finn se virou lentamente com a mão sobre o bacamarte.
- Aos seus postos.
            Os marujos recuaram com olhos vorazes. Hollom segurou num cordame, levantando a voz sobre o ruído do vento.
- Capitão?
- Diga.
- Os homens não ficarão felizes com isso.
- Primeiro eles precisavam sobreviver. – O Trapaceiro surgiu novamente, emergindo num salto. – Nós precisamos.
O Imediato silenciou.
- Preparem os canhões.
- Senhor?
- Ele ainda não desistiu, vamos dar um incentivo. Preparar canhões.  – Finn atravessou o convés. – Vou pegar o timão. Hollom?
- Sim, capitão?
- Os canhões.
- Huzzah! – O imediato abriu um sorriso feroz, correndo para as escadas.
Quando o dragão saltou da água, mergulhando contra o navio, homens se desesperaram. O grito agudo da fera feriu seus ouvidos e o trapaceiro brilhou por um segundo, enquanto a descarga elétrica percorria seu corpo.
- Fogo! – Finn manobrou o barco, saindo do caminho.
Os tiros acertaram o flanco do animal que passou à lateral do barco. Mais um grito rasgou o ar antes que o dragão mergulha-se, desparecendo entre as ondas do mar escuro.
O medo se esvaiu devagar, mas os marujos não ergueram as vozes, como se temessem atrair novamente a criatura. Os trovões os seguiram por mais uma hora antes que saíssem da rota da tempestade.
Ver o sol foi um alivio tão intenso que poucos foram aqueles a sequer citar o fato de terem jogado uma fortuna no mar.
“Conseguimos.”

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