Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.
Narrativa #5 - Morte Ácida
Kalista atravessou outra porta sem diminuir a velocidade de sua desenfreada corrida. Olhava por sobre o ombro, ofegando. Ouvia o som metálico das armaduras de seus perseguidores, mas ainda não havia conseguido se recuperar do embate com Nimbë, o bruxo que fora enviada para eliminar.
Tomando a esquerda na bifurcação que encontrou logo em seguida, recostou contra uma parede e forçou seu corpo a produzir energia mágica. Sentiu a cabeça doer, enquanto uma dor lancinante trespassava seu cérebro. Tão subitamente quanto veio, a aflição se foi e ela sentiu a familiar sensação gelada no estômago, enquanto a magia voltava a circular em suas veias.
Subiu o lance de escadas que havia a sua frente, saltando os degraus de dois em dois, parando de imediato ao perceber que o caminho escolhido não tinha saída. Voltou-se para a escada, mas ouvia vozes confusas; ordens dadas aos berros e o som da marcha inexorável de muitos pés.
A feiticeira respirou fundo, parando para controlar seu nervosismo. Suas roupas estavam pesadas com seu próprio sangue. Lembrou das palavras finais ditas por Victorius, no último dia do treinamento que se submetera após se voluntariar para o Esquadrão.
- Vocês vieram a mim para se tornar Purpuris. - disse ele aos cinco magos que estavam no centro das pilhas de ossos que restavam esquecidos no topo da Torre Púrpura. - Vocês sabem o que isso significa.
Victorius postava-se completamente estático, cajado na mão, olhos frios como blocos de gelo. Seu robe negro se debatia em volta de seu corpo, soprado pelos ventos gelados do inverno.
- O Esquadrão Púrpura é a espada de dois gumes que trespassa nossos piores inimigos, ainda que inocentes tenham de perecer. É adaga oculta que encontra seus corações, fazendo-os sangrar em dias pacíficos, nos salões aquecidos por lareiras. É a flecha que voa sob a chuva, procurando alvos na escuridão, ainda que isto signifique perder-se na tempestade.
- Um sábio necromante disse que quando se olha para o Abismo, o Abismo olha para nós. Quando se é um Purpuri, o Abismo olha para e por nós. Vivam por estas palavras. Morram por elas. - o arquimago os encarava com um olhar fulminante. - Quando tomaram a decisão de entrar para o Esquadrão, vocês concluíram que não havia mais pelo que viver. Não voltem atrás. É por esse motivo que nós somos o pior inimigo daqueles que enfrentamos, pois não temos o que perder. Nós não tememos. Nós não poupamos.
Um soldado atravessou a porta, olhando diretamente para ela, com espada na mão. Sob a armadura, o homem respirava com dificuldade.
- Pare! - gritou ele.
- Nós não tememos. - respondeu ela para o homem, que arremetia escada acima. - Nós não poupamos.
Kalista ergueu a mão e lhe lançou um olhar de desprezo. A magia dentro dela revirou seu estômago e a rajada cáustica o atingiu em cheio no rosto.
O ácido emitiu um chiado ao tocar a pele do homem, que largou a espada aos gritos, levando as mãos à face. Sua pele criou bolhas, produzindo silvos macabros e soltando uma fumaça escura. Em seguida, seu rosto começou a deformar.
O soldado caiu de joelhos, engasgado com a fumaça, gemendo em aflição. Seus olhos haviam derretido, deixando apenas órbitas vazias. O corpo caiu inerte contra a escada e a feiticeira correu para o fim do corredor. Um movimento abrupto de sua mão abriu um buraco na rocha um segundo antes que ela saltasse através dele, mergulhando no lago que rodeava o forte.
Quando alcançou a margem, já havia cavaleiros saindo pelo portão. Havia ao menos trinta deles, montados em cavalos de guerra, acompanhados por cães de caça. Não teria como escapar a pé.
Pensou sobre os duzentos aldeões daquela vila, que não tinham nenhuma conexão com a Ethos. Nenhum deles tinha participação naquela guerra.
"Azar.", pensou ela. "Nós não tememos. Nós não poupamos."
Esticou os braços para o céu, apontando as palmas para a vila e para os cavaleiros. Concentrou seu poder, deixando-o tomar conta dela.
Uma nuvem de poeira se ergueu, rodopiando para o céu. Nuvens escuras se formaram algumas dezenas de metros sobre a vila, girando num redemoinho. A chuva de ácido começou alguns instantes
depois.
Então vieram os gritos.
Tomando a esquerda na bifurcação que encontrou logo em seguida, recostou contra uma parede e forçou seu corpo a produzir energia mágica. Sentiu a cabeça doer, enquanto uma dor lancinante trespassava seu cérebro. Tão subitamente quanto veio, a aflição se foi e ela sentiu a familiar sensação gelada no estômago, enquanto a magia voltava a circular em suas veias.
Subiu o lance de escadas que havia a sua frente, saltando os degraus de dois em dois, parando de imediato ao perceber que o caminho escolhido não tinha saída. Voltou-se para a escada, mas ouvia vozes confusas; ordens dadas aos berros e o som da marcha inexorável de muitos pés.
A feiticeira respirou fundo, parando para controlar seu nervosismo. Suas roupas estavam pesadas com seu próprio sangue. Lembrou das palavras finais ditas por Victorius, no último dia do treinamento que se submetera após se voluntariar para o Esquadrão.
- Vocês vieram a mim para se tornar Purpuris. - disse ele aos cinco magos que estavam no centro das pilhas de ossos que restavam esquecidos no topo da Torre Púrpura. - Vocês sabem o que isso significa.
Victorius postava-se completamente estático, cajado na mão, olhos frios como blocos de gelo. Seu robe negro se debatia em volta de seu corpo, soprado pelos ventos gelados do inverno.
- O Esquadrão Púrpura é a espada de dois gumes que trespassa nossos piores inimigos, ainda que inocentes tenham de perecer. É adaga oculta que encontra seus corações, fazendo-os sangrar em dias pacíficos, nos salões aquecidos por lareiras. É a flecha que voa sob a chuva, procurando alvos na escuridão, ainda que isto signifique perder-se na tempestade.
- Um sábio necromante disse que quando se olha para o Abismo, o Abismo olha para nós. Quando se é um Purpuri, o Abismo olha para e por nós. Vivam por estas palavras. Morram por elas. - o arquimago os encarava com um olhar fulminante. - Quando tomaram a decisão de entrar para o Esquadrão, vocês concluíram que não havia mais pelo que viver. Não voltem atrás. É por esse motivo que nós somos o pior inimigo daqueles que enfrentamos, pois não temos o que perder. Nós não tememos. Nós não poupamos.
Um soldado atravessou a porta, olhando diretamente para ela, com espada na mão. Sob a armadura, o homem respirava com dificuldade.
- Pare! - gritou ele.
- Nós não tememos. - respondeu ela para o homem, que arremetia escada acima. - Nós não poupamos.
Kalista ergueu a mão e lhe lançou um olhar de desprezo. A magia dentro dela revirou seu estômago e a rajada cáustica o atingiu em cheio no rosto.
O ácido emitiu um chiado ao tocar a pele do homem, que largou a espada aos gritos, levando as mãos à face. Sua pele criou bolhas, produzindo silvos macabros e soltando uma fumaça escura. Em seguida, seu rosto começou a deformar.
O soldado caiu de joelhos, engasgado com a fumaça, gemendo em aflição. Seus olhos haviam derretido, deixando apenas órbitas vazias. O corpo caiu inerte contra a escada e a feiticeira correu para o fim do corredor. Um movimento abrupto de sua mão abriu um buraco na rocha um segundo antes que ela saltasse através dele, mergulhando no lago que rodeava o forte.
Quando alcançou a margem, já havia cavaleiros saindo pelo portão. Havia ao menos trinta deles, montados em cavalos de guerra, acompanhados por cães de caça. Não teria como escapar a pé.
Pensou sobre os duzentos aldeões daquela vila, que não tinham nenhuma conexão com a Ethos. Nenhum deles tinha participação naquela guerra.
"Azar.", pensou ela. "Nós não tememos. Nós não poupamos."
Esticou os braços para o céu, apontando as palmas para a vila e para os cavaleiros. Concentrou seu poder, deixando-o tomar conta dela.
Uma nuvem de poeira se ergueu, rodopiando para o céu. Nuvens escuras se formaram algumas dezenas de metros sobre a vila, girando num redemoinho. A chuva de ácido começou alguns instantes
depois.
Então vieram os gritos.
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