sábado, 20 de junho de 2015

Narrativa #6: Punhos e Fúria

    Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
    Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.

Narrativa #6 - Punhos e Fúria

   Como uma sombra, Murdock se moveu sobre os telhados, saltando de casa em casa na direção da Veridiana. Subiu num grande prédio do Centro; era apenas uma silhueta escura contra o céu estrelado.

   A lua minguante era pouco mais que um fio prateado no céu, um sorriso travesso entre as constelações. Nuvens escuras se moviam juntas, vindas do norte, trazendo as primeiras chuvas do outono.

   O justiceiro sentiu o vento frio soprar com força e voltou a correr, saltando para o próximo edifício e para o seguinte, na direção da parte alta de Pedrabranca.
   Chegava à Colina quando ouviu os gritos desesperados de uma mulher. Não pensou duas vezes e imediatamente seguiu na direção da voz, saltando para a rua e correndo velozmente pela rua calçada de pedras brancas.

   Murdock vestia roupas negras e faixas escuras estavam enroladas em seus punhos; a face estava coberta por uma máscara preta que só permitia ver seus olhos. E foi assim que o viram quando entrou no beco, arremetendo contra um homem e lançando-o ao chão.

   - Larguem-na! – Ordenou ele para os quatro homens que arrastavam uma senhora à força.

   Os homens obedeceram e, aturdida, a mulher levantou e correu. Murdock deixou que ela passasse por ele, fugindo para a rua, então foi lentamente cercado pelos criminosos. Posicionou defensivamente sem movimentos bruscos. Um pesado pingo de chuva acertou seu ombro e outro tocou sua nuca com um dedo frio. A chuva caiu subitamente e seus inimigos avançaram.
   Moviam-se velozmente, mas seu passo era estranho, como se estivessem embriagados. Com a agilidade própria de um monge, Murdock evadiu de socos, revidando com golpes certeiros nas costelas. A chuva caia torrencialmente e seus punhos se chocavam com a carne dos adversários num ritmo frenético. Trovões reverberavam a ponto de fazê-los tremer e os relâmpagos lançavam flashes de luz, rasgando o céu com fios de luz branca e azul.
   Uma sequência furiosa de golpes levou um ao chão e, sem parar, o monge negro se voltou para o próximo, então para o seguinte. Em dois minutos todos estavam caídos.

   - Estou farto de vermes como vocês. – disse Murdock.

   - Você nunca viu ninguém como eles. – respondeu uma voz macia e melodiosa vinda da escuridão.

   Outro relâmpago cortou as nuvens e a luz revelou um jovem saindo de uma viela lateral. Ele caminhava na direção do monge, com um sorriso estranho que provocou calafrios em Murdock. Ao som da voz dele, os homens caídos se ergueram. Tinham os olhos iluminados em rubro por alguma magia macabra. Em meio à chuva, outros surgiram vindo da rua atrás do justiceiro e das vielas estreitas e tortas em volta.
   Investiram contra ele e Murdock golpeou à direita e à esquerda, girando no próprio eixo para derrubar um inimigo após o outro. Naquela rua estreita, precisava dar cambalhotas sobre os que caíam para continuar a lutar contra o que permaneciam de pé. Começava a se sentir exausto quando o último deles caiu..

   Ofegante, o justiceiro viu o garoto sorrindo para ele da entrada do beco. Deu dois passos na direção dele, sentindo a água gelada escorrer através de suas roupas.
   Antes que pudesse avançar contra aquele mago, o som de muitas vozes em agonia tomou a rua. Gritos aberrantes que penetraram seus ouvidos. Tão agudos e lacerantes que nem mesmo o ribombar de um trovão os encobriu.
   O jovem tinha os braços abertos e cantava numa língua estranha. Murdock viu-se paralisado. Seu coração estava acelerado e o monge não entendia o motivo.

   Um corpo se ergueu no ar como se puxado por linhas invisíveis. Seus membros se retorceram em posições estranhas por alguns segundos enquanto aquelas vozes desesperadas gritavam palavras desconexas. O corpo se debateu intensamente pelo que pareceu uma eternidade, então os gritos cessaram e ele desabou.

   Murdock encarou a cena perplexo. Conhecia das artes das trevas, mas nunca vira algo assim.

   O jovem baixou os braços lentamente e o corpo se mexeu. Pálido e com olhos completamente enegrecidos, o cadáver se ergueu. Quando falou, foi como se uma dúzia de vozes saísse de sua boca:

   - Nós somos Varag. – disse ele. – Resistir é inútil.

   Murdock não esperou que aquela criatura agisse e saltou contra ele, desferindo uma sequência de golpes que o inimigo defendeu com habilidade e músculos rígidos como aço.
   Quando Varag contra-atacou, o golpe atingiu o peito do monge com força suficiente para atirá-lo contra a parede do beco. Antes mesmo que ele se recuperasse do impacto, Varag o acertou novamente e outra vez. A dor o ensurdeceu e ele sentiu a força escapar.

   Murdock desabou e sentiu a chuva atingir seu rosto. A escuridão o envolveu por um segundo, mas o justiceiro retomou a consciência bem a tempo de rolar e evadir do golpe que o inimigo desferiu contra seu rosto.
   Pondo-se de pé, o monge atacou velozmente o inimigo, numa brutal sequência de socos que derrubaria o maior dos homens, mas Varag pouco fez além de dar alguns passos para trás.

- Seus socos não podem feri-lo, imortal. - Disse o jovem.

    Murdock virou-se de súbito. Não vira o jovem passar por ele em nenhum momento.

   - Ele é um draugar. Armas mundanas não lhe causam mais que irritação. – Os olhos do jovem brilhavam em vermelho.

   Antes que pudesse responder ao mago, o justiceiro viu-se obrigado a recuar, esquivando-se dos ataques furiosos do homem de olhos negros. Preparava-se para contra-atacar quando uma lâmina perfurou suas costas. A dor fez seu passo vacilar e Varag o acertou em cheio no rosto, quebrando-lhe o nariz e levando-o ao chão.
   Tropeçando para se pôr de pé, Murdock levantou o rosto apenas para ver todos os homens que derrubara novamente prontos para o combate. Agora via que muitos tinham ferimentos fatais e membros em posições escrotas.

   Um relâmpago lançou sua luz sobre a rua e Varag se moveu como uma flecha, acertando Murdock com uma joelhada no peito. O justiceiro evitou os ataques seguintes, revidando inutilmente. Cercado, não pode esquivar de facadas desferidas por todos os lados. Girou nos calcanhares, atingindo mandíbulas e costelas, abrindo espaço na rua.
   A chuva fazia suas roupas pesarem. Lento, não pode evitar que outra lâmina trespassasse suas costelas. Tentou golpear o atacante, mas Varag segurou seu pulso, torcendo-o.
 
   Murdock viu-se gritando. Estava de joelhos e cercado. A chuva caindo, trovões ribombando. Duas dúzias de mãos tentavam alcançá-lo com facas nas mãos.
   O draugar segurava seu pulso com um aperto férreo, fulminando-o com um olhar negro como a mais negra das sombras.

   Varag deixou que fosse apunhalado meia centena de vezes, então o ergueu pelo pescoço até que seus pés não tocassem o chão. O monge tentou escapar, mas o draugar era por demais forte. Murdock o atingiu com socos no rosto, mas foi como acertar uma parede de pedra.
   Olhando fundo nos olhos do monge com seu olhar macabro, Varag trespassou seu coração lentamente com uma espada quebrada.
   O monge gemeu de dor, sentindo o metal rasgar sua carne. A última coisa que Murdock viu antes de ser abraçado pelas trevas foi o jovem de olhos vermelhos se metamorfoseando. O mago cresceu e sua silhueta se deformou. Chifres cresceram em sua cabeça e uma cauda musculosa se esticou atrás dele. Erguendo-se sobre as casas num bater de asas, o monstro desapareceu nas cortinas de água do dilúvio, deixando para trás o monge no meio de um exército de criaturas mortas.

   - Resistir é inútil. – Disseram as vozes do draugar.

   E a morte tomou Murdock nos braços mais uma vez.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Narrativa #5: Morte Ácida

    Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
    Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.

Narrativa #5 - Morte Ácida

   Kalista atravessou outra porta sem diminuir a velocidade de sua desenfreada corrida. Olhava por sobre o ombro, ofegando. Ouvia o som metálico das armaduras de seus perseguidores, mas ainda não havia conseguido se recuperar do embate com Nimbë, o bruxo que fora enviada para eliminar.

   Tomando a esquerda na bifurcação que encontrou logo em seguida, recostou contra uma parede e forçou seu corpo a produzir energia mágica. Sentiu a cabeça doer, enquanto uma dor lancinante trespassava seu cérebro. Tão subitamente quanto veio, a aflição se foi e ela sentiu a familiar sensação gelada no estômago, enquanto a magia voltava a circular em suas veias.

   Subiu o lance de escadas que havia a sua frente, saltando os degraus de dois em dois, parando de imediato ao perceber que o caminho escolhido não tinha saída. Voltou-se para a escada, mas ouvia vozes confusas; ordens dadas aos berros e o som da marcha inexorável de muitos pés.
   A feiticeira respirou fundo, parando para controlar seu nervosismo. Suas roupas estavam pesadas com seu próprio sangue. Lembrou das palavras finais ditas por Victorius, no último dia do treinamento que se submetera após se voluntariar para o Esquadrão.

   - Vocês vieram a mim para se tornar Purpuris. - disse ele aos cinco magos que estavam no centro das pilhas de ossos que restavam esquecidos no topo da Torre Púrpura. - Vocês sabem o que isso significa.
   Victorius postava-se completamente estático, cajado na mão, olhos frios como blocos de gelo. Seu robe negro se debatia em volta de seu corpo, soprado pelos ventos gelados do inverno.

   - O Esquadrão Púrpura é a espada de dois gumes que trespassa nossos piores inimigos, ainda que inocentes tenham de perecer. É adaga oculta que encontra seus corações, fazendo-os sangrar em dias pacíficos, nos salões aquecidos por lareiras. É a flecha que voa sob a chuva, procurando alvos na escuridão, ainda que isto signifique perder-se na tempestade.  

   - Um sábio necromante disse que quando se olha para o Abismo, o Abismo olha para nós. Quando se é um Purpuri, o Abismo olha para e por nós. Vivam por estas palavras. Morram por elas. - o arquimago os encarava com um olhar fulminante. - Quando tomaram a decisão de entrar para o Esquadrão, vocês concluíram que não havia mais pelo que viver. Não voltem atrás. É por esse motivo que nós somos o pior inimigo daqueles que enfrentamos, pois não temos o que perder. Nós não tememos. Nós não poupamos.
  
   Um soldado atravessou a porta, olhando diretamente para ela, com espada na mão. Sob a armadura, o homem respirava com dificuldade.

   - Pare! - gritou ele.

   - Nós não tememos. - respondeu ela para o homem, que arremetia escada acima. - Nós não poupamos.

   Kalista ergueu a mão e lhe lançou um olhar de desprezo. A magia dentro dela revirou seu estômago e a rajada cáustica o atingiu em cheio no rosto.
   O ácido emitiu um chiado ao tocar a pele do homem, que largou a espada aos gritos, levando as mãos à face. Sua pele criou bolhas, produzindo silvos macabros e soltando uma fumaça escura. Em seguida, seu rosto começou a deformar.

   O soldado caiu de joelhos, engasgado com a fumaça, gemendo em aflição. Seus olhos haviam derretido, deixando apenas órbitas vazias. O corpo caiu inerte contra a escada e a feiticeira correu para o fim do corredor. Um movimento abrupto de sua mão abriu um buraco na rocha um segundo antes que ela saltasse através dele, mergulhando no lago que rodeava o forte.

   Quando alcançou a margem, já havia cavaleiros saindo pelo portão. Havia ao menos trinta deles, montados em cavalos de guerra, acompanhados por cães de caça. Não teria como escapar a pé.
    Pensou sobre os duzentos aldeões daquela vila, que não tinham nenhuma conexão com a Ethos. Nenhum deles tinha participação naquela guerra.

    "Azar.", pensou ela. "Nós não tememos. Nós não poupamos."

   Esticou os braços para o céu, apontando as palmas para a vila e para os cavaleiros. Concentrou seu poder, deixando-o tomar conta dela.
   Uma nuvem de poeira se ergueu, rodopiando para o céu. Nuvens escuras se formaram algumas dezenas de metros sobre a vila, girando num redemoinho. A chuva de ácido começou alguns instantes
depois.
 
   Então vieram os gritos.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Resumo de Campanha S1 #1 - Azira, Meihëm e Os Caçadores de Dragão

    Salve! Devido à falta de tempo e grande quantidade de sessões, acabei por perder o ritmo de registro das aventuras. Para não deixar incompleta e em aberto, resumirei brevemente o que ocorreu desde a libertação de Rafiki, até o fim da campanha.
    Os personagens são a elfa ladina Laurana (Julia), a senhorita discórdia, que sempre pensa em si mesma antes de qualquer coisa; o elfo monge Gadeus (Neto), o mais comedido do grupo, com a pior mão de todos (haja falha crítica); o bárbaro meio orc Ugo (Caio), que apesar de ser o louco do grupo, algumas vezes põe os óculos da sabedoria e vira o conselheiro; o feiticeiro meio anjo Kaly (Eddie), que tem um código dos heróis, mas sempre acha brecha pra fazer coisas erradas (os Deuses estão vendo); a paladina draconato Brianna (Marcela), que definitivamente deixaria você morrer só pra dar mais uma machadada no inimigo; e o arcanista  milenar Rafiki (Arthur), também conhecido por sua arte de tortura física e psicológica (você ainda tem dezoito dedos...).

   Parte 1 - Murdock, O Grande B e O Passado de Ugo

 
   Após uma missão cheia de altos e baixos, com um novo membro no grupo, os companheiros resolvem tirar uma folga e encher a cara. O álcool no sangue os leva à embriaguez, que gera problemas civis e o aprisionamento dos personagens.
   Ugo é raptado por dois homens, Murdock e Grande B, um cavaleiro loiro de armadura negra e um gigante ruivo, vestido como um selvagem.
   Os dois usam de um ritual e revelam o passado esquecido de Ugo, que havia sido criado pelo Rei dos Dragões Vermelhos, Vermillion. Os dois estão atrás de um Orbe, mas Ugo não consegue lhes informar a localização. Os dois partem então para a vila onde o meio-orc viveu quando criança, ameaçando matar todas as sacerdotisas da ordem que a mãe de Ugo pertencia, até descobrir a localização do Orbe.

   Após algumas desventuras, o grupo se liberta da prisão, sai de Roarc e prossegue por algumas semanas atrás do rastro frio de Azira, sabendo que haveriam de apressar sua jornada para o norte, de modo a impedir Murdock e seu companheiro.
    O grupo encontra Azira em sua torre, no centro do jardim de cristal, confrontando-a. No combate, Gadeus entra em fúria ao ser provocado, mas Azira se mostra mais forte do que esperavam, derrotando-os todos de forma humilhante.
    Ela se retira após derrotá-los, deixando-os para morrer com o colapso da torre. Neste momento, Alada, a Carta do Voo, acorda e abençoa os companheiros com asas mágicas, com as quais eles se salvam do fim certo.

   Ainda com asas, os companheiros voam para o norte, ultrapassando Murdock - montando em seu corcel das trevas -  e Grande B - montado num imenso cervo negro, um dos imensos Imbus de Khalifor.
   Os companheiros pousam pouco ao sul do Rio do Sol e caminham até o leito do rio, onde encontram refugiados e feridos. Atendendo aos pedidos de socorro, o grupo vai de encontro a um forte de uma patrulha cruel, se infiltra com as armaduras de um grupo de soldados, liberta os prisioneiros e confronta seu líder.
    Kaly demonstra seu imenso poder mágico, criando uma curta nevasca, enquanto Gadeus pilota um galeão, salvando todos os prisioneiros. Entre estes, muitos elfos adoecidos pela praga lançada sobre a raça.

  Parte 2 - Belar, Seisrios e a Morte de Azira

   Perseguidos por soldados, o grupo aporta numa vila, dando combate a uma legião. Nesse momento, após Gadeus ser atingido por um relâmpago fatal, Belar (Luis) - um paladino anão, comprometido com a justiça - cura o elfo monge, juntando-se aos companheiros para vencer a batalha.

   A vila agradece aos seus heróis, prometendo criar uma estátua em sua glória e, após se recuperar brevemente, deixando o galeão para ser vendido pelos aldeões, o grupo toma um dos barcos menores e avança pelo pântano de Seisrios, no rastro de Murdock e Grande B.

   No centro dos pântanos enevoados, num templo abandonado e macabro, o grupo volta a confrontar Azira, que fazia um ritual para reviver um indivíduo de um caixão de pedra.
   Após uma batalha acirrada, com muitos momentos tensos e a quase morte de alguns personagens, Gadeus mata Azira com uma sequência cruel de socos no rosto, ainda que ela implorasse por misericórdia.

   A viagem corrida os leva para fora de Seisrios, adentrando no reino de Gunheim. Lá, aportando em Cailin, o grupo toma alguns dias para realizar missões, conseguir dinheiro e comprar mantimentos para prosseguir para o norte.
   Numa destas missões, acabam por descobrir que um dos arcanistas do ritual do Reloah havia vendido seus companheiros, retornando do Abismo. Era Redhu, agora autodenominado Valkir. Enganados por este, o grupo liberta Valkir, que revela a verdade terrível sobre Rafiki: a chave para libertar Astaroth de sua prisão ficou presa na alma do arcanista.

    Parte 3 - Meihëm

   Após mais alguns longos dias de viagem depois, o grupo novamente ultrapassa a dupla de caçadores, usando dos poderes de Alada, alcançando antes destes a Torre de Manä, também chamada de Torre da Verdade, onde as sacerdotisas da verdade criaram Ugo.
    Dentro da Torre, o grupo é posto frente a frente com as consequências de suas ações. Gadeus descobre que Azira esteve desde sempre influenciada por Reloah e que - no tempo da morte de Elthrandir - a feiticeira estava grávida. Sua filha, Ellarya, foi criada por Reloah para se tornar uma caçadora impetuosa e sarcástica, fiel apenas ao próprio.
    No fim, um evento místico ocorre, jogando-os numa outra dimensão, completamente escura.

   Nesta terra de trevas, o grupo passa por terríveis situações, acabando por encontrar um templo escondido dentro de uma montanha, dentro do qual jaz adormecido uma entidade humanoide de proporções imensas, que parece distorcer o espaço em volta de si.
   O ser emite luminosidade e esplendor. Ao tocá-lo, alguns dos companheiros sofrem de uma descarga de conhecimento, assistindo a criação do mundo decorrer em sua mente.
    Belar, resistindo à intensidade da revelação, entende que se trata de um deus e trata com o ser. Este se apresenta como Meihëm, um dos membros da Raça de Ouro, que havia escolhido aquele lugar para descansar após criar o Universo.
    O Deus examina a dimensão, concluindo que seus enviados, a Raça de Prata, havia erguido um casulo para impedi-lo de perceber o passar do tempo, "fechando as cortinas" do espaço em sua volta. Belar, após tal iluminação divina, se converte ao Verdadeiro Deus, e este os liberta da prisão dimensional.
    No entanto, Laurana (cuja jogadora, Julia, se mudou para outro estado), ficou na dimensão escura e fria, abandonada pelos amigos, que não a encontraram.

   Parte 4 - Confronto!

    Do lado de fora, Ugo recebe da Sumo-sacerdotisa o Orbe dos Dragões Vermelhos, deixado com ela pelo próprio Vermillion. Assim, os companheiros saem da torre, indo até a fronteira para confrontar definitivamente os caçadores de dragão.
    A batalha acirrada revela o alto nível dos adversários. Iorek Barnisson, o gigante ruivo, acaba por se transformar num imenso urso, demonstrando ser uma espécie de licantropo. Murdock, um cavaleiro com poderes das trevas, deixa Ugo à beira da morte antes de ser vencido.

    O golpe final no urso é dado por Belar, que clama à Meihëm por força para vencer. O golpe lança uma luz poderosa sobre o selvagem, que é julgado e iluminado pelo Deus Verdadeiro. Ajoelhando-se diante do anão paladino, o homem ruivo agradece pela paz que encontrou junto à Meihëm, sem dar detalhes de que terrível agonia havia sido dissipada pela iluminação.
    O grupo destitui o corpo - estranhamente ressecado - do cavaleiro. Ugo toma para si a espada de lâmina negra, Mormegil, sem saber ainda do que era capaz.

    Com a vitória em mãos, os companheiros decidem partir para as montanhas Gungard, em busca do covil de Vermillion, para pedir-lhe informação sobre o que era o Orbe e solicitar auxílio contra Reloah.

Considerações: De forma muito apressada, contei os fatos principais, citando apenas aquilo que é necessário para a compreensão de como o mundo ficou após os eventos de A Apoteose.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Narrativa #4: Culto ao Leviatã

    Bem vindos de volta! Esta narrativa conta fatos offgame, que os jogadores não fizeram parte - ao menos não diretamente. As narrativas como esta serão um modo de mostrar as pequenas e grandes mudanças que os jogadores causaram em Tellerian, para o bem ou para o mal, assim como contextualizar cidades, povos, lugares e pessoas.
    Os fatos a partir daqui contados se referem à 2ª Temporada de Tellerian, 84 anos após a campanha original. Os personagens desta vez são: o guerreiro anão Belgest (Luis), neto de Belar, que foi personagem do mesmo jogador na Temporada anterior; Adaak (Neto), um paladino que se juntou à Ethos para se redimir de ter causado a morte da própria família num acesso de fúria sobrenatural; o clérigo Érebor (Eddie), com um passado sombrio e uma conexão simbiótica com um espírito das trevas chamado de Umbra; Raduh (Caio), um draconato verde exilado, que se juntou a Resistência Arcana e se tornou um cavaleiro rúnico com poderes das trevas [vocês o verão aqui no blog através de seu diário]; Lilrelei, ou Liu, (Mateus), um ladino explorador meio elfo, irmão de Ellian (Marcela), uma meia elfa como o irmão, mas com um espírito sanguinário de bárbara; e Miryo (Sara), uma ranger desertora da Ethos, cuja família foi assassinada pela própria instituição, fato que ela descobriu tardiamente.

Narrativa #4 - Culto ao Leviatã

   A madrugada silenciosa dos portos estava tão tranquila quanto sempre, sua quietude abalada apenas pelo som das ondas se chocando contra o cais. O frio formava uma densa névoa sobre a água, que se erguia do Lago Comprido como uma neblina úmida, cobrindo toda a Baixada.

   Sozinho no Armazém 12, Irvin amaldiçoava seu chefe e a família deste, rogando pragas silenciosas enquanto desencaixotava sacas de milho. Tiritava de frio sob o gibão de peles, esfregando as orelhas para aquecê-las.
   A lua crescente desapareceu atrás de pesadas nuvens, obrigando-o a parar e acender mais lamparinas para dispersar a escuridão, mas as trevas daquela noite pareciam mais densas, mais frias, quase maléficas, pesando sobre ele... Os pingos pesados da chuva cessaram suas reflexões, jogando-o de volta ao mau humor de antes.
   Terminou o serviço praticamente abraçado à uma lamparina, tentando livrar-se do frio que penetrava por suas roupas molhadas. Trancou o armazém, apressando os passos para encontrar sua cama o quanto antes, quando ouviu sons gorgolejantes e o som de vozes se perdendo na neblina.
   Estranhou, com bons motivos, a presença de pessoas ali, ainda que ele mesmo estivesse trabalhando até tão tarde no cais.

   “Quem, pelo Abismo, está aqui fora num frio desgraçado desses?!”, pensou ele. "Outro fodido."


   Irvin estreitou os olhos, esticando a mão que segurava a lamparina e caminhando na direção da água. O som gorgolejante se tornou mais audível e o jovem apressou o andar, olhando para a água e temendo que alguém estivesse se afogando ali perto, escondido pela neblina.
   Se aproximou com um nó na garganta, sem saber bem o que esperar, mas atraído por uma curiosidade que lhe era estranha. Temeu, por um segundo, encontrar apenas o cadáver gélido de um conhecido.
   Então, paralelo ao gorgolejar incessante, ouviu vozes rudes murmurando algo que não compreendia. O cântico se tornou mais nítido confirme o jovem se aproximava, então cessou repentinamente, junto com o som que o havia deixado tão inquieto. Saltou a grade que bloqueava a passagem para o quebra-mar, estacando ao aterrissar do outro lado. Ficou completamente abismado com o que via.

   Na parte mais baixa das pedras, duas ou três dezenas de homens e mulheres estavam parados, encharcados e imersos na água até os joelhos. Uma dúzia ou mais deles traziam lamparinas e as luzes tremulantes das chamas revelavam rostos deformados, de olhos esbugalhados e pele flácida como sapos; seus cabelos eram tufos esparsos de pelo fino, colados na cabeça pelo toque da chuva; aqueles que abriram as bocas em silvos e sons sibilantes mostraram dentes podres e buracos vazios de dentição irregular.

   Engolindo em seco, tremendo sem saber se de frio ou de medo, Irvin olhou – paralisado – para a água, onde um par de grandes homens deformados seguravam um terceiro, que pendia inerte.
   O que viu depois disso decretou o seu fim. O jovem soltou um berro esganiçado e derrubou a lanterna que trazia, atraindo a atenção daquelas criaturas. Tentou correr daqueles que vieram na sua direção, mas as penas não obedeceram.

   A criatura, o monstro que emergiu do lago, espalhando a névoa, parecia saído de um pesadelo. O couro azulado e mucoso era quase negro, seu corpo disforme era maior que o de qualquer criatura que ele já tivesse visto. Sob ele, tentáculos compridos saíram da água, esticando-se para o moribundo.
   Na protuberância tosca que era sua cabeça, o monstro ostentava três olhos, um sobre o outro: olhos rubros como entranhas, imensos e cintilantes, profundos e tão cheios de compreensão e maldade que fizeram o estômago do jovem revirar e colocar para fora tudo o que comera.
   O monstro parecia refastelar-se com o medo. Sua bocarra com inúmeros dentes agudos se abriu, sugando água com um som gorgolejante, depois a excretou com o mesmo som, mas repleta de um muco escuro com o fedor do mais podre esgoto.

   Como um trovão, a voz profunda e grave da criatura vibrou sua cabeça, fazendo Irvin ver manchas pretas. A tontura causada pelo cheiro horrendo e pela pressão abissal que a voz produziu em sua cabeça, quase o levou à inconsciência, deixando-o inerte e apático.

   - Aceite... A Benção... - disse o monstro, enroscando o primeiro prisioneiro com quatro asquerosos tentáculos.
   Todas as criaturas presentes passaram a bater freneticamente em seus tórax, erguendo suas vozes em gritos tribais cheios de silvos e rosnados.
   Irvin, arrastado por duas delas, tocou as pernas na água fria, retomando consciência a tempo de ver o prisioneiro começar a se debater em espasmos descontrolados, juntando seu berro de dor à gritaria ensandecida das criaturas.

   - Aceite a Benção das profundezas. - ordenou o monstro, apertando o homem com seus tentáculos e afundando-o na água. - Aceite a Benção. Aceite a Benção.
   Muitas criaturas juntaram suas vozes ao ritual, sibilando e silvando de forma arrítmica. - Aceite a Benççççção. Assssceite a Benção!

   As bolhas subiram pelo que pareceu ser uma eternidade, enquanto o homem se debatia, submerso. Então cessaram.

    Fez-se silêncio.

   Do lugar onde o homem afundara, se ergueu lentamente uma criatura de feições anfíbias, recoberta de muco putrefato. Erguendo a face para a chuva que caía, a criatura recém-nascida bateu no peito, rosnando, ao que todas as outras se uniram.

   - Tragam o outro. -  disse o monstro.

   E Irvin foi arrastado para a água podre.